Portas reafirma “compromisso com o PSD” e aponta “receios” sobre o PS

Líder do CDS suaviza discurso em relação a Costa, e defende que o Governo tem que ser sobretudo “social”. A sua saída da liderança do CDS, se perder as eleições, "não foi aberta".

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Portas: "Vamos lutar até ao limite das nossas forças por dar ao país uma maioria duradoura” Nuno Ferreira Santos (arquivo)

Paulo Portas promete que o CDS vai, ao lado do PSD, “lutar até ao limite das forças por dar ao país uma maioria que seja duradoura e consistente”. Mas, ao mesmo tempo, suaviza o seu discurso em relação ao PS, fala apenas em “receios” em relação a algumas propostas dos socialistas e não é taxativo na recusa de viabilizar um Governo que não inclua o PSD.

Na entrevista que deu esta terça-feira à noite à SIC — a primeira desde que está no Governo com Pedro Passos Coelho —, o vice-primeiro-ministro contornou as perguntas acerca de cenários pós-eleitorais, nomeadamente sobre se continua no Governo se não houver maioria absoluta ou se admite viabilizar um outro executivo. Disse acreditar que o projecto PSD

CDS “não vai falhar” e refugiou-se no facto de Passos Coelho também não ter falado — a seu ver “muitíssimo bem” — em cenários quando se sentou na mesma cadeira daquela televisão há uma semana.

“Quem decide quem é Governo é o povo. A proposta do PSD e CDS — e é por isso que estão juntos e vamos lutar até ao limite das nossas forças por dar ao país uma maioria que seja duradoura e que seja consistente —, é darmos um rumo ao país e não pormos em risco o que Portugal ganhou nos últimos quatro anos do ponto de vista da confiança e credibilidade”, defendeu Paulo Portas.

Quando Clara de Sousa lhe lembrou as declarações de há dias, na homenagem a Adelino Amaro da Costa, quando disse que o CDS-PP é um partido “construtor de maiorias” no “arco da governabilidade”, Paulo Portas devolveu a pergunta: “Sabe quais são os meus receios em relação ao PS?” Depois desfiou apenas três: que António Costa não tenha feito uma “revisão crítica sobre o que aconteceu em 2011” quando foi eleito, admitindo a “responsabilidade” socialista no que aconteceu e que aprendera com esses erros, e prometendo ser “prudente” em matéria de défice e de dívida.

As outras duas “dúvidas” são o facto de Costa associar Portugal à Grécia ao elogiar a eleição do Syriza, e as propostas que fazem disparar o défice e a dívida: no caso desta última, as medidas socialistas, contabiliza Portas, põem-na 10 pontos acima da proposta que o actual Governo entregou à Comissão e a promessa de devolução antecipada de salários e pensões é uma imprudência face às regras de Bruxelas.

Nos 33 minutos de entrevista houve críticas ao PS mas num tom mais suave do que em muitos discursos de Portas nestes últimos quatro anos. Lá esteve a bancarrota, o “Estado falido”. “Ninguém sonha o que é governar um país que não tinha como pagar pensões e salários”, desabafou depois de tentar explicar porque admitiu a manutenção da “mais injusta das sobretaxas” sobre salários e pensões.

Até porque, argumentou, “uma coligação é um exercício de compromisso permanente. Se há dois partidos, cada um terá a sua ideia e temos que chegar a um acordo. Eu tenho que transigir numa parte e o PSD noutra. (...) O compromisso a que se chegou em termos fiscais é positivo.”

O Governo andou a “arrumar a casa” e não tem de pedir desculpas aos portugueses, mas antes lhes deve “um enorme obrigado e reconhecimento”. Portas chega ao fim com “sentido de missão cumprida” por ter ajudado a dar a volta à situação de “emergência nacional”, a evitar um novo resgate e a tirar a troika do país, enumerou. Agora, o país precisa de uma nova legislatura que tenha um foco “social” — “relevante num Governo de direita” — que devolva a “confiança e a esperança” que trazem investimento, crescimento e emprego (os mesmos indicadores que são alvo de discussões à décima entre Governo e oposição). “Nos próximos quatro anos não vamos ouvir falar de troika, de restrições (mas de recuperação, com gradualismo e de forma progressiva), menos de angústia e mais de esperança e de oportunidades do que de dificuldades.”

Incontornável foi também a questão da sua demissão “irrevogável”: a dado momento, Portas viu-se “forçado a tomar uma atitude que era um pedido de demissão”, descreveu. “Eu revoguei essa decisão e pago o preço em termos de compreensão por ter feito essa revogação.” Mas, garante, o acordo e compromisso conseguido pouco depois, trouxe “mais coesão” ao Governo. Portas assume que houve “dificuldades e divergências” para ultrapassar a situação com “sentido de interesse nacional e patriotismo”. A cooperação no executivo é “boa e interpartidária” e o vice-primeiro-ministro reitera a sua “confiança” em Passos Coelho.

Surpreendeu-se com a capacidade política de Maria Luís Albuquerque? “Temos uma relação diária, muito boa e bem-disposta”, respondeu Portas depois uma ligeira hesitação, mas passou ao lado da pergunta sobre se fez um “erro de avaliação” ao decidir demitir-se quando Maria Luís Albuquerque foi anunciada como sucessora de Vítor Gaspar.

E se perder as eleições, admite deixar a liderança do CDS? Portas vincou que gosta de “cumprir mandatos e compromissos” e reforçou estar a “lutar para ganhar e merecer uma maioria para que o país não tenha sarilhos e problemas”. Defendeu que o partido está preparado para mudar o líder porque tem uma “plêiade de quadros com muita qualidade” e depois desfiou uma lista de nomes de centristas que estão ou passaram pelo Governo. Mas a sua sucessão “não está aberta, não foi aberta por ninguém”.

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