Portas dá puxão de orelhas aos reguladores por causa dos lesados do BES

Vice-primeiro-ministro elogia Merkel pela abertura manifestada relativamente aos refugiados que estão a tentar entrar na Europa.

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Paulo Portas foi contratado pela Mota-Engil Nuno Ferreira Santos

Paulo Portas criticou o “espírito de capelinha” demonstrado pelo Banco de Portugal e pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, a propósito da actuação dos dois reguladores relativamente aos lesados que investiram em papel comercial no BES.

Numa entrevista à TVI, esta quinta-feira à noite, o vice-primeiro-ministro afirmou que o modelo de resolução encontrado para o Novo Banco dá mais garantias aos contribuintes, mas evitou garantir que os portugueses não vão ter de suportar um tostão decorrente da venda do banco.

O líder do CDS foi duro com os reguladores do sistema financeiro. “Não gostei do comportamento em público dos dois reguladores – Banco Portugal e Comissão de Mercado de Valores Mobiliários - a passar culpas uns aos outros”, disse Paulo Portas. As instituições - acrescentou – “deviam estar à mesa a analisar caso a caso e a distinguir o trigo do joio”, tendo em conta que “uns casos é de investimento de risco, outros são eventuais casos de manipulação e de aproveitamento pela da idade das pessoas ou de fraude”.

O vice-primeiro-ministro reforçou: “Deviam ter mais respeito pela natureza das suas funções e menos espírito de capelinha”. Questionado sobre o seu olhar crítico do governador do Banco de Portugal, Portas disse apenas esperar que o Novo Banco “seja vendido em condições”.

Na entrevista, o jornalista José Alberto Carvalho começou por perguntar qual é a pressa de vender o Novo Banco e se a diferença entre o valor do negócio e o valor da resolução não vai recair sobre os contribuintes.

Portas optou por sublinhar insistentemente que o modelo da nacionalização traria custos para os contribuintes, o que ainda não aconteceu com o modelo da resolução adoptado pelo Banco de Portugal. Acabou por dizer que “o diferencial que possa existir não vai a cargo do contribuinte”.

Já na segunda parte do programa da TVI – aberto a outros jornalistas -  Portas assegurou que não há uma relação directa entre a participação da CGD – que é um banco público - no fundo de resolução detentor do Novo Banco e qualquer encargo para o contribuinte resultante de uma venda abaixo do previsto. “A CGD tem várias formas de, durante os anos em que isso suceder, dependendo de qual for o diferencial, de resolver o problema”, afirmou, reconhecendo que o modelo “não é perfeito”.

Relativamente à Segurança Social e à redução de 600 milhões proposta pelo Governo, Portas escusou-se a revelar qual a receita para a sua concretização com a justificação de que é necessário negociar com o PS, após as eleições. Mas aproveitou para explicar o modelo de plafonamento “moderadíssimo” proposto pela coligação PSD/CDS - que cria um tecto máximo nos descontos para o sistema público e nos pagamentos das reformas futuras – e devolver as críticas ao PS ao lembrar que os socialistas já defenderam esta medida.

“Oiço o Doutor António Costa dizer que é uma privatização, que é um crime. E vou buscar este livro branco da Segurança Social, do tempo de António Guterres, da autoria de Correia de Campos, onde se defende o plafonamento e aí sim com cinco ou seis salários [como máximo]”, apontou. De seguida fez as contas à “descida radical” da Taxa Social Única (TSU) proposta pelo PS – avaliando o impacto em 14 mil milhões de euros – questionando o pagamento das pensões.

Em resposta a uma pergunta sobre a Europa, Paulo Portas aproveitou para defender a necessidade de haver uma “posição com muita clareza” sobre o que chamou uma crise “humanitária gravíssima”, a dos refugiados. E aproveitou para elogiar a chanceler alemã. “Até agora, quem mais se aproximou de honrar aquilo que é o humanismo cristão e o humanismo laico que fazem os valores da Europa foi a chanceler Merkel quando disse 'eu não repatriarei nenhum refugiado de guerra da Síria'”, disse o líder do CDS, lembrando que “ a tradição portuguesa é de acolhimento”. Já sobre a “praga” de refugiados como lhe chamou o primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, Portas reagiu com um peremptório “nem comento”.

CDS em Escola de Quadros
Sem o seu parceiro de coligação, o CDS começou esta quinta-feira a escola de quadros, uma iniciativa de formação de jovens, em Ofir, célebre por ter sido o lugar de reunião do grupo liderado por Francisco Lucas Pires. Naquele que ficou conhecido como grupo de Ofir, entre 1984 e 1985, debateram Paulo Portas, Bagão Félix, Rui Moura Ramos, José Luís Vilaça, Lobo Xavier, Fernando Adão da Fonseca e António Borges. 

Lobo Xavier, antigo dirigente centrista e actual comentador político, fará esta sexta-feira uma intervenção sobre este grupo, num jantar-debate, com tema “De Ofir a Ofir – constantes da relevância do CDS”.

No princípio dos anos 1990, Francisco Lucas Pires foi interpelado por Portas que o acusou de ter desistido das causas para se preocupar com lugares no "mercado político". Em 1992, o então director do semanário O Independente Paulo Portas confrontou na estação de televisão SIC o antigo presidente do CDS Lucas Pires, a quem acusou de pertencer a "uma espécie de clube dos políticos mortos", por ter saído do CDS mas manter-se como deputado europeu.

Para Paulo Portas, Lucas Pires tinha-se rendido à social-democracia e a Cavaco Silva. O então jornalista era o convidado-surpresa do programa Conta Corrente em que, nessa noite, Margarida Marante entrevistava Lucas Pires.

"Toda a sua entrevista, na primeira parte, é uma entrevista no mercado político. O senhor doutor está no mercado político e o PSD vai buscá-lo ou não. O senhor doutor está enganado numa coisa, o PSD nunca gostou das pessoas que vêm da direita. O PSD gosta dos homens que vêm da esquerda, vide o caso de Durão Barroso, vide o caso de Pacheco Pereira", argumentou o director de O Independente. 

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