Portas deixa recado ao PS: negociações sim, encenações não

Líder do CDS-PP acusa PS de não ter vontade de chegar a acordo por os socialistas ainda não terem feito qualquer contraproposta ao documento inicial de negociação, enviado há uma semana. Confederação do Turismo defende solução entre PSD, CDS e PS.

Foto
Paulo Portas nFactos/Lara Jacinto

O PS não terá vontade de chegar a um acordo com a coligação – porque se tivesse já teria dado qualquer resposta ou mesmo feito uma contraproposta ao documento facilitador que a coligação lhe enviou há uma semana. A tese é do líder do CDS-PP, Paulo Portas, que esta segunda-feira se reuniu, a par de representantes do PSD, com a Confederação do Turismo de Portugal.

No final da reunião, em declarações aos jornalistas, Paulo Portas deixou o recado aos socialistas sob a forma de comentário à reconhecida e tradicional capacidade negocial dos parceiros sociais portugueses. “Desde o primeiro dia a coligação teve disponibilidade sem reservas, teve abertura sem estar a pôr condições prévias para chegar a um compromisso com o PS. Nós fizemos, através do chamado documento facilitador, uma proposta ao PS. Até hoje não recebemos nenhuma contraproposta. Ora, como os parceiros sociais sabem, quando se pretende chegar a um acordo, uma das partes faz uma proposta; o que é normal é que se a outra parte considerar que é insuficiente mas tiver vontade de chegar a um acordo, faça uma contraproposta. Isso até hoje não aconteceu [com o PS]”, afirmou o líder centrista.

O presidente do CDS-PP vincou que a “leitura fiel” que a coligação faz dos resultados eleitorais é a de que os portugueses querem que PSD/CDS continuem a governar, e que os eleitores, ao não lhe darem maioria absoluta, disseram também que a coligação e dos demais agentes políticos devem “encontrar compromissos”.

“A nossa posição desde o primeiro dia foi sempre a de ter abertura total e sem reservas quando há busca e empenhamento político, autêntico e intenso em encontrar compromissos. E também fomos esclarecendo que para negociações temos disponibilidade total, para encenações não somos o parceiro ideal”, avisou Paulo Portas.

“Desde o primeiro dia, a coligação teve e tem disponibilidade tanto para um acordo de mínimos, para um acordo de médios, como para um acordo de máximos. Portugal precisa de ter governabilidade, isso é indispensável para a confiança”, acrescentou o número dois da coligação Portugal à Frente.

Foi também com recados subliminares ao PS que Paulo Portas falou sobre as conversas entre a coligação e os parceiros sociais. “A sua cultura de negociação [entre trabalhadores e empregadores], os resultados que obtiveram tanto em momentos de crescimento do país como em momentos muito difíceis são um exemplo em que os responsáveis políticos deviam meditar”, apontou.

Considerando que o turismo contribuiu “decisivamente” para a melhoria da situação económica e para a imagem de Portugal no estrangeiro, Paulo Portas realçou o carácter “europeísta” do sector e sua a “posição favorável” a que “a governabilidade do país seja entre partidos que aderem ao projecto europeu, que respeitam as regras europeias e que não querem criar sobre isso nenhuma dúvida ou inquietação”. Um recado ao PS que tem negociado com Bloco e PCP, defensores da revogação do Tratado Orçamental e do estudo e preparação para a saída da moeda única.

Confederação do Turismo quer no Governo só "partidos europeístas"
À Confederação do Turismo, a coligação foi em busca de apoio. E teve-o – em parte. “A confederação não negou: nós gostamos de trabalhar com os partidos do arco da governação. São cerca de 80% dos votos que os portugueses puseram nas urnas para esses partidos e era daí que gostaríamos que houvesse uma solução”, disse Francisco Calheiros, presidente da CTP, aos jornalistas.

Depois de há 15 dias se ter manifestado satisfeito por não ter havido votação expressiva em partidos extremistas à esquerda e à direita, mas inquieto por não haver uma maioria absoluta, Francisco Calheiros diz-se agora mais preocupado. “Depois desta reunião chegamos à conclusão de que a maioria não só está mais longe como também está mais confusa; como também se fala de, eventualmente, haver os tais partidos que nós considerávamos que não estão dentro do arco da governação e que possam amanhã vir a constituir Governo.”

Desejando que haja “bom senso”, o patrão do turismo defendeu que o sector e o país precisam de um Governo “estável, com credibilidade, que cumpra o euro, que seja europeísta e que tenha também assumido os seus compromissos internacionais”. Lembrou que a recuperação económica só começou “muito recentemente” e as situações de instabilidade governativa com partidos que não sejam europeístas podem comprometer essa recuperação.

Depois dos encontros que a coligação já teve com as confederações da Indústria (CIP), Agricultura (CAP) e Turismo (CTP) ficam a faltar apenas a Confederação do Comércio e Serviços (na quarta-feira), a UGT (que já anuiu mas não tem ainda sem data marcada), e a CGTP que não respondeu.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários