Por favor, um intervalo

Os pequenos partidos são um sintoma de sociedades que não conseguem resolver os seus problemas. E, como o governo e a oposição andam longe de propor uma política racional e realista para os males do tempo, o campo fica aberto para o primeiro indivíduo ou o primeiro grupo que resolva inventar uma panaceia qualquer. Os jornais publicam diariamente léguas de prosa de economistas, directores, gestores, professores, conselheiros, jornalistas (que pelo menos vão ganhando a vida) e também de puros loucos com visões de época. A maior parte desta gente salta sozinha para a praça pública. Outra organiza reuniões, simpósios, debates, seminários, com ou sem a presença do sr. Presidente da República, que se acha uma excepcional cabeça e gosta de promover o disparate.

Agora apareceram dois bandos: o Livre e o Polo. O Livre quer organizar uma gritaria institucional, onde toda a gente seja livre de participar. O Polo produziu uma ladainha sem sentido, que serve com certeza para o consolo do espírito e o alívio da alma. Julgam os seguidores destas duas seitas que o seu zelo acabará por transformar o PS e o PC e juntar a esquerda num grande e alegre manicómio. Mas nem o Livre, nem o Polo têm razão. Na balbúrdia em que vivem, as pessoas precisam de ordem, não precisam de “ideias”, que já as confundem quanto baste, e provavelmente irão votar nos partidos do costume, com porta aberta e licença da Câmara. E daí brotará, pelo velho ódio entre o PC e o PS, uma nova edição do antiquíssimo “bloco central”, para continuar imperturbável as fantasias de Passos Coelho.

A saída dos becos sem saída não se encontra com palavreado e expedientes. Sucede que a esquerda detesta ouvir esta verdade simples: Portugal gasta mais do que produz (6 por cento por ano). E que a direita persiste em não compreender que, fora o que tirou aos portugueses, não foi até agora capaz de fazer uma única reforma consequente e séria. Anonima e modestamente, o país partilha a dor destes dois patéticos rebanhos. Melhor ainda: não leva a mal os salvadores da imprensa, da televisão e da internet. Mas preferia, durante umas semanas, que ninguém por uma vez falasse, até para evitar que os comentadores comentassem com um rigor conventual os lugares comuns de que as notabilidades regularmente se aliviam. Seria simpático deixar respirar a língua portuguesa. 
 

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