PJ fez buscas na Câmara de Lisboa no âmbito da investigação aos vistos gold
A autarquia foi alvo de buscas na quarta-feira. Ex-presidente do Instituto dos Registos teria relações privilegiadas com um departamento e intercedido para que um empresário chinês conseguisse comprar prédio sem ir a hasta pública.
A Câmara de Lisboa foi alvo de buscas pela Polícia Judiciária (PJ) no âmbito da investigação aos vistos gold. A visita dos investigadores ocorreu na quarta-feira, adiantou ao PÚBLICO fonte da Judiciária.
As buscas estarão relacionadas com a necessidade de encontrar provas que solidifiquem as suspeitas de relações privilegiadas entre o ex-presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, António Figueiredo, e o Departamento de Gestão do Património Municipal.
Durante três horas, a PJ procurou comunicações entre aquele departamento e o ex-responsável pelo instituto, tendo apreendido material informático contendo emails relacionados com prédios colocados à venda pela autarquia e o telemóvel de um dos funcionários municipais com quem Figueiredo mantinha contacto, segundo a SIC. O departamento de informática da autarquia também terá sido visado pela PJ.
A acção da PJ ocorreu no dia a seguir ao juiz Carlos Alexandre ter terminado os interrogatórios no Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa e decretado as medidas de coacção. A informação recolhida no âmbito das inquirições terá sido fundamental para decidir a realização destas buscas da PJ na Câmara de Lisboa.
A pedido de António Figueiredo, o empresário chinês Zhu Xiaodong terá sido recebido pela autarquia em Setembro, tendo mantido vários contactos posteriormente com a câmara. O empresário chinês quereria comprar, em nome da mulher, um edifício no centro da capital, mas sem se submeter à habitual obrigatoriedade de este ser licitado em hasta pública. A Câmara de Lisboa recusou e o negócio não ocorreu nestes termos. António Figueiredo e Zhu Xiaodong, também detido no âmbito desta investigação, estão em prisão preventiva.
O prédio terá sido vendido mais tarde a outra empresa com a qual Zhu Xiaodong não terá qualquer relação. Nenhum funcionário da câmara foi constituído arguido, nem ouvido pelos inspectores da PJ.
Numa nota enviada na noite desta quinta-feira, a câmara confirmou as buscas. "Ontem, dia 19 de novembro de 2014, pelas 9h30, foi pela Polícia Judiciária dado cumprimento a uma decisão judicial de 'mandado de busca e apreensão' a um posto de trabalho individual de um colaborador, tendo os serviços do município prestado toda a colaboração que lhes foi solicitada. Foram pela PJ recolhidos no posto de trabalho em causa todos os elementos de prova que entenderam por conveniente", disse autarquia.
A Operação Labirinto resultou já na detenção de 11 pessoas, cinco das quais ficaram em prisão preventiva, embora três possam ver a medida convertida em pulseira electrónica na próxima semana como o PÚBLICO avançou.
A operação investiga eventuais crimes de corrupção activa e passiva, recebimento indevido de vantagem, prevaricação, peculato de uso, abuso de poder e tráfico de influência.