PIDE interrogou suspeitos do golpe no próprio dia da revolução, revela insvestigador

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A polícia política do Estado Novo (PIDE/DGS) fez detenções e interrogou elementos ligados à revolução de 25 de Abril na madrugada do próprio dia do golpe militar.

"A PIDE/DGS esteve a actuar naquele dia [25 de Abril de 1974] e conseguiu inclusivamente prender pessoas, que não levou para a rua António Maria Cardoso [onde se situava a sua sede], levou-as para o Governo Civil e estava-as a interrogar na altura em que o Salgueiro Maia estava a obter a rendição de Marcelo Caetano", descreve Jacinto Godinho, autor de uma investigação inédita à polícia política, que vai ser transmitida esta sexta-feira na RTP.

Para o investigador da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP, tudo o que se passa em torno da PIDE/DGS (Polícia Internacional de Defesa do Estado/Direcção-Geral de Segurança), desde a madrugada do dia 25 até ao dia 26 de Abril de 1974 são acontecimentos "determinantes" e que definem o Movimento das Forças Armadas, "as hesitações" e as primeiras "lutas intestinas" que começaram de imediato após o golpe militar.

De acordo com Jacinto Godinho, a PIDE/DGS não sabia o plano de operações dos militares revoltosos, "que era muito vasto", mas tinha a informação de que alguma coisa estava a acontecer. "A PIDE não iria impedir o golpe por duas razões: em primeiro lugar porque um golpe de militares é impedido por militares, e em segundo lugar era estratégia da polícia política, desde o golpe de Beja [1 de Janeiro de 1962], que os golpes saíssem às ruas para depois prenderem os responsáveis", explica Jacinto Godinho.

O que a polícia política fazia em relação aos civis eram prisões preventivas por suspeita de envolvimento em organizações clandestinas, mas em relação às Forças Armadas o comportamento era distinto. Normalmente, era necessário que os militares revoltosos que estivessem envolvidos em alguma conspiração fossem demitidos da hierarquia militar e só depois é que a polícia os podia prender, uma regra que apenas teve excepção no Golpe das Caldas, a 16 de Março de 1974.

"Em relação ao 25 de Abril a estratégia era deixar sair, esperar que as forças leais ao governo actuassem. Eles estavam convencidos de que depois da prisão daqueles que eram os elementos mais importantes - ou seja, depois da prisão de Almeida Bruno e Manuel Monge a seguir ao 16 de Março e depois do exílio de Melo Antunes e de Vasco Lourenço - qualquer movimento não teria gente para o liderar", diz Jacinto Godinho.

A investigação do jornalista refere que a PIDE tinha de proteger as instituições do regime em caso de golpe de Estado, assim como garantir a segurança do presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano, e do Presidente da República, Américo Tomás. "O que é curioso é que nós não sabemos bem a partir de quando é que a acção da polícia acabou. Se foi, ou não, por acção dos generais", afirma Godinho, destacando a vontade declarada de Costa Gomes e de Spínola em manter a polícia política.

"Mais tarde, os disparos efectuados pela PIDE na sede em Lisboa são determinantes no que diz respeito a decisões sobre o próprio futuro da instituição", diz Godinho sobre o ataque dos agentes da PIDE contra a população e que fez quatro mortos e 45 feridos. "A única coisa que sabemos é que a PIDE foi a última instituição do regime a render-se e que se preparou para se defender com unhas e dentes", disse Jacinto Godinho destacando o papel da população das cidades de Lisboa e Porto no envolvimento espontâneo contra a polícia política.

"A primeira coisa que [a] atacou foram as instituições que mais odiava: a censura e a polícia política e deu o corpo ao manifesto. Alguns destacamentos populares investiram contra a instituição que mais odiava. Isso aconteceu no Porto, de forma surpreendente, e, com surpresa, em Lisboa", conclui Jacinto Godinho. A investigação que inclui as informações sobre a actividade da PIDE no próprio dia 25 de Abril vai ser transmitida sexta-feira, às 22h na RTP-Informação.

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