Pesadelo de Nice pairou na visita de Hollande a Lisboa

Esteve em Portugal, durante pouco mais de quatro horas, um Presidente francês tocado por atentados, assediado pela impopularidade, responsável de um Governo que a espiral terrorista conseguiu desfazer.

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Hollande foi recebido pelo *Presidente da República em Belém, donde seguiu para São Bento, para encontro com o primeiro-ministro Miguel Manso
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O pesadelo do atentado de Nice da passada quinta-feira e as consequências para o futuro do actual poder político socialista francês estiveram presentes com o peso de uma laje na visita relâmpago que o Presidente francês, François Hollande, fez ontem a Lisboa. O périplo, que depois o conduziu a Dublin, na Irlanda, tinha sido pensado para a França patrocinar projectos para uma nova Europa, a serem discutidos na cimeira de Bratislava, em Setembro. A loucura de um assassino franco-tunisino e o ajuste de contas após a tentativa de golpe de Estado na Turquia mudaram o argumento.

“Precisamos de regras comuns mas também precisamos de flexibilidade e Portugal já desenvolveu enormes esforços e sacrifícios”, disse Hollande, na única referência aos ditames das políticas orçamentais europeias, portanto à margem dos acontecimentos de Nice e Ancara. Foi no final de um encontro de 45 minutos, em São Bento, com o primeiro-ministro António Costa. “O povo português já fez enormes esforços e sacrifícios”, destacou.

Costa agradeceu ao chefe de Estado francês a "análise serena" que França tem feito sobre a consolidação orçamental portuguesa e garantiu que Portugal continuará a fazer "um grande esforço" para cumprir as regras do euro". "Não há moeda única sem regras comuns e Portugal quer cumprir as regras comuns”, disse ainda o primeiro-ministro, retomando as “regras comuns” avançadas pelo seu interlocutor.

Para a posição de Portugal na pugna das sanções ficou a foto e a declaração de Hollande. Para a memória desta visita, ficou a presença de um Presidente francês tocado, assediado pela impopularidade, responsável de um Governo que a espiral terrorista conseguiu desfazer. “Proclamámos o estado de emergência no seguimento dos atentados de 13 de Novembro [2015]”, recordou quando perguntado sobre novas medidas ou, na expressão tecnocrática, na densificação de soluções.

“A partir do momento em que há um ataque não sabemos se pode haver réplicas, desconhecemos o nível de cumplicidade”, disse na Sala das Bicas do Palácio de Belém, refém do terrorismo e do populismo. Um discurso para consumo interno num país estrangeiro, quando o previsto era diferente.

De pé sobre um estrado de cerca de dez centímetros, que igualizava a sua estatura com a do seu anfitrião, Marcelo Rebelo de Sousa, François Hollande recordou que o propósito da sua vinda a Lisboa era outro. “Não sabíamos o que iriamos enfrentar, mas se houve um país do qual recebemos solidariedade foi o vosso”, agradeceu, com jeito de desculpa. À entrada do Palácio de Belém, uma jovem mãe francesa respondia a uma convocatória não tão antiga - do Liceu Francês, dizia, de 28 de Junho, - para um encontro de miúdos com o seu Presidente. “Fale com o Liceu”, recomendou-lhe um graduado da PSP, explicando que nada estava previsto: “Foi alterado”.

Horas depois, a comitiva francesa chegou atrasada, Hollande falava de uma causa comum, de uma Europa mais segura  - “para podermos viver juntos” -, quando os que se lhe opõem na política francesa preferem o estabelecimento de diques. “Há uma ameaça a vários países do mundo, a França é a igualdade, a democracia, se os terroristas nos atacaram é porque sabem o que a França representa”, disse.

Recebeu conforto português. “Partilhamos os mesmos valores da liberdade, a democracia, o Estado de Direito, estamos na União Europeia, na NATO, queremos a paz, a solidariedade, o que nos aproxima é tão forte e tão intenso que tê-lo junto a nós é motivo de júbilo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. Hollande agradeceu com uma reivindicação, não a Portugal, mas à sua opinião pública: “Temos de estar unidos e termos a compreensão de que os terroristas nos querem separar.”

Claro que a situação não é benigna. A resposta de Ancara à tentativa de golpe de Estado da passada semana, insinuando o regresso da pena de morte e praticando um ajuste de contas de grande dimensão, favorece a extrema-direita de Marine Le Pen. “Condenámos a tentativa de golpe mas desejamos que as medidas [tomadas pelo Governo turco] sejam de acordo com a lei, estamos contra a pena de morte num país que quer aderir à União Europeia”, disse. Marcelo fez coro: “Não acolhemos a pena de morte.”

Mas o dia estava aziago. A espera e a canícula do meio-dia já tinham feito uma baixa no pelotão de honra da GNR, com o desmaio de um militar. E a pressão política de França não permitiu ao Presidente Hollande uma refeição tranquila. Foi literalmente a correr que decorreu o almoço em Belém, velocidade indigna para o robalo, o Pomares branco e o Vale de Meão tinto servidos no Palácio.

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