Perdemos todos

O dicionário espera que um “debate” seja a “análise de um tema, assunto ou problema, que pressupõe uma discussão durante a qual os participantes apontam os seus pontos de vista”. É o mesmo que nós esperamos de um “frente-a-frente”, mesmo que em televisão os ponham mais de lado que de frente, obrigando um a olhar para a direita e outro para a esquerda. Um bom exercício.

A “disputa” (a que chamaram “duelo”) entre Pedro Passos Coelho e António Costa, cabeças de lista de candidatura às legislativas de 4 de Outubro — pela coligação PSD-CDS e pelo PS, respectivamente —, aconteceu na noite de quarta-feira.

As reacções podem ser aferidas através de vários artigos que insistem (irritantemente) em comparar debates a desafios de futebol. Quem ganhou, quem perdeu? Resultados ao intervalo? Empataram? Não é de bola que se trata, senhores. Trata-se do futuro. O nosso. E, tanto a avaliar pelo que ficou claro como pelo que não foi esclarecido, perdemos todos.

A “discussão” foi seguida por 3,3 milhões de espectadores. Muitos mais dos que há um ano assistiram (meio milhão) à “contenda” entre José Seguro e António Costa. Este, depois dos bons resultados do PS nas eleições europeias sob a liderança do outro, sentiu um apelo: Portugal precisava dele. Agora, dá-se o inverso. Tal como Passos Coelho, o socialista precisa de Portugal.

Na quarta-feira, ouviu-se por várias vezes o conceito de “austeritário”. Um neologismo que não encontrámos no dicionário, só na memória. E gostaríamos de esquecê-lo.

Depois do debate entre os dois candidatos a primeiro-ministro, muitos indecisos continuaram a pensar “venha o Diabo e escolha”. Mas o Diabo não tem cartão de eleitor.

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