Paulo Portas desafia Governo a ter uma posição de abertura

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Portas: “Virei essa página"

Paulo Portas revelou neste domingo o que já se sabia sobre a redução da Taxa Social Única (TSU) e a posição do CDS nesta matéria: não bloqueou a decisão “pela simples razão” que isso “conduziria a uma crise nas negociações com a troika”. E deixou um recado ao Governo para ter uma posição de abertura em matéria de Orçamento do Estado.

“Se me perguntam se eu soube? Claro que soube. Se me perguntam se eu tive uma opinião diferente. Tive uma opinião diferente.Se me perguntam se eu alertei. Alertei. Se me perguntam se eu defendi que havia outros caminhos. Defendi. Se me perguntam se eu bloquei a decisão. Não bloqueei pela simples razão de que fiquei inteiramente convencido que isso conduziria a uma crise nas negociações com a missão externa, a que se seguiria uma crise do Governo, a que se seguiria um caos que levaria a desperdiçar todo o esforço já feito pelos portugueses”, afirmou Paulo Portas.

Numa conferência de imprensa com direito apenas a três perguntas e onde explicou por que razão convocou os órgãos nacionais do partido, o líder do CDS afirmou: “Quem me conhece sabe que não deixaria de pensar como pensava, mas também sabe que eu não seria responsável por uma crise que considero trágica para Portugal”. Mas disse também que se houve uma crise no Governo, não havia alternativa à actual maioria PSD/CDS.

“Virei essa página e o que quero dizer em nome do CDS é simples; até porque a proposta não está definida em todos os seus contornos, a nosso ver o Governo deve ter uma posição de abertura para avaliara situação com os parceiros sociais e com as instituições do país”.

“Não direi absolutamente nada que prejudique a margem de manobra do Governo e da coligação. (…) A minha preocupação não é que um partido fique bem na fotografia, isso seria nestas circunstâncias desprezível, a minha preocupação é fazer o que puder para evitar uma ruptura social e descomprimir a tensão política”, disse, lembrando que “vivemos juntos esta crise dificílima, só saímos juntos desta crise dificílima, temos que fazer o que pudermos para que o país não se divida perigosamente”.

Portas fez considerações sobre a questão orçamental, afirmando que “a única forma de não sacrificar a consolidação da receita é ter audácia do lado da despesa”. E, a este propósito, advertiu que “é preciso saber fazer escolhas, ter sensibilidade social relativamente aos que são mais vulneráveis e ter uma visão de futuro para uma país que não sobreviverá à altura da sua história sem a sua classe média e sem as suas empresas”.

Falando num tom muito pausado, o líder dos democratas-cristãos deixou claro que “o memorando de entendimento permite que haja medidas no lado da despesa que possam compensar outras medidas do lado da receita desde que seja definido com consistências e não corresponda a mera retórica”.Numa intervenção recheada de recados, Paulo Portas insistiu no argumento de que “há um esforço redobrado a fazer daqui até à aprovação final do orçamento” e abrir caminho para que o Governo não perca de vista as parcerias público-privadas (PPP).

Para o líder do PP, é preciso que no Governo se concentre especialmente em três pontos: “A onerosidade pesadíssima das PPP para o presente e para o futuro do nosso país - não vejo alternativa a uma muito rigorosa defesa do interesse público nesta matéria -; o excessivo gasto que continuam a ter muitas empresas públicas e do lado da receita, por exemplo, a venda bem organizada do vasto património edificado do Estado”.

Sublinhando que o défice não se resolve “com um passo de mágica”, o presidente do CDS disse que “o esforço redobrado a que já se referiu o primeiro-ministro e o ministro de Estado e das Finanças ajuda de certeza a resolver problemas”, sobretudo – notou – “porque nós estamos nos exercícios orçamentais com mais problemas e tudo o que se poupar na despesa é o que pouparemos ao acréscimo do esforço por parte da sociedade portuguesa”.

Para Portas, “é prioritário” procurar que o produto desse esforço seja dirigido a compensar algumas questões fiscais críticas, “mas mais uma vez eu vou resistir à tentação de condicionar publicamente o resultado de um esforço que ainda está em trabalho”.

Embora afirmando que não promete milagres, Portas disse que “há uma ética do esforço que tem de ser levada até ao fim na questão das PPP e das empresas públicas na procura de soluções justas (…) que certamente levará a equilibrar a percepção pública da repartição do esforço”. Questionado sobre as manifestações que ontem decorreram em muitas cidades, o líder do CDS considerou que “fazer uma avaliação estritamente partidária daquelas manifestações não é um acto inclusivo”.

“É muito provável que tenham estado naquelas manifestações pessoas com ligações a partidos, mas muitas pessoas que não têm ligações e até porventura pessoas que contribuírem para que esta maioria estivesse no Governo (…). Não faço julgamentos sobre a natureza dessas manifestações”, disse Portas.

“Toda a vida respeitei a liberdade das pessoas pensarem como entenderem. Há apenas uma fronteira em que eu acho que a esmagadora maioria dos portugueses comunga com o que eu vou dizer: não são em nenhuma circunstância em democracia admissível actos de violência”, acrescentou.

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