Passos já pede maioria absoluta mas não fecha a porta a bloco central

Primeiro-ministro diz, em entrevista ao Expresso, que PS não poderá fazer “radicalmente diferente” e considera um “conto para crianças” pensar que é possível “expandir o orçamento”.

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Passos e Portas nas Jornadas do Investimento do PSD e CDS, a 19 de Fevereiro Daniel Rocha

“Eu não fecho porta nenhuma, mas não vou fazer cenarizações”. Em entrevista ao Expresso desta semana, o primeiro-ministro deixa em aberto as soluções governativas do pós-legislativas. Embora frise que vai “procurar que a experiência destes quatro anos em conjunto com o CDS possa prosseguir” e bater-se por uma maioria absoluta, não exclui um bloco central com o PS. António Costa já veio rebater as declarações de Passos, dizendo que o país não precisa de um bloco central.

Pedro Passos Coelho promete que o PSD e o CDS-PP vão esclarecer “dentro de pouco tempo” qual vai ser a “fórmula política” em que os dois partidos concorrem às eleições, se coligados ou não. E é Passos quem suscita a questão da maioria absoluta nesta entrevista. “Eu tenho a expectativa de que um Governo com maioria no Parlamento possa sair destas eleições. É por isso que me vou bater”.

O primeiro-ministro considera mesmo ser perigoso governar sem o apoio parlamentar de uma maioria na Assembleia da República, quando a situação económica e financeira do país é frágil. “Quando saímos de um período difícil e precisamos de consolidar reformas, crescimento e confiança, não ter maioria absoluta pode ser um perigo”, vinca, lembrando que, no tempo de Cavaco Silva como primeiro-ministro, sempre defendeu que esse não deve ser um fim em si mesmo, mas um garante de estabilidade.

Quando questionado se lhe “apetece” governar com Paulo Portas mais quatro anos, Passos é evasivo em relação ao seu "número dois". “Apetece-me governar mais quatro anos, não porque esteja fascinado por ser primeiro-ministro ou porque o poder me subiu à cabeça, mas porque há muita coisa que precisa de ser feita”. Sem mais se referir a Portas, frisa que as eleições vão ser importantes para que “este projecto possa ser completado”.

Mas se perder as legislativas, sai de cena ou admite continuar a liderar o PSD? “Não vou perder tempo com cenários pós-eleitorais”. Passos Coelho lança ainda críticas às propostas do principal partido da oposição, considerando que o PS não terá margem para fazer “radicalmente diferente”. “As pessoas que têm pontificado no PS são basicamente as mesmas que determinaram as escolhas do passado. Se há um projecto novo, está escondido”.

Costa afasta bloco central
O secretário-geral do PS, António Costa, já veio responder a Passos Coelho, afirmando que o país “não está à espera nem precisa de um bloco central”. E demarcou-se: “Ou nós ou eles [PSD e CDS-PP]”.

Rebatendo a ideia de que só há uma “política única”, o líder do PS lembrou a estratégia dos socialistas de combate à pobreza, reabilitação urbana, apoio ao emprego jovem e descida do IVA na restauração. “Nós temos propostas, nós temos medidas. E não nos conformamos com a resignação do senhor primeiro-ministro – e estamos aqui para construir e afirmar uma alternativa”, disse.

Passos volta a falar em “conto para crianças”. Desta vez, para criticar a ideia de que é possível “superar uma quase bancarrota a distribuir dinheiro e a expandir o orçamento”. Para Passos, as soluções apresentadas pelo PS “são semelhantes às do passado”.

Quando questionado se “tem noção de que algumas medidas que aplicou ao país foram brutais”, Passos Coelho lança perguntas aos jornalistas: “Quer voltar à bancarrota de 2011? Alguém tem dúvidas de como foi difícil passar este período em Portugal e de como isso deixou marcas?”. Admite que “as marcas de um período recessivo existem e a mais visível são os quase 14% de desemprego”, questão que diz ser prioritária.

“Não podemos ter sintonia com o Governo alemão?”
Quanto à Grécia, quando lhe perguntam se os compromissos assumidos pelo Governo de Alexis Tsipras deixam para trás o que Passos chamou de “conto de crianças”, o chefe de Governo português diz agora que se trata de um “conjunto de medidas suficientemente amplo para iniciar uma boa conversa com as instituições – a troika, portanto, apesar da diferença semântica – e com os países do Eurogrupo”. O primeiro-ministro admite que a Grécia e os parceiros discutam “o que é substituído com vantagem [em relação ao acordo em vigor nos último anos], o que é que permanece, o que é que é preciso fazer para fechar o programa”.

Passos admite ainda não ter falado com o primeiro-ministro grego. “Ainda não tive ocasião. Terei oportunidade agora em Março, no Conselho Europeu”. Tsipras já se encontrou com outros chefes de Governo europeus nas primeiras semanas em que assumiu funções e já participou como primeiro-ministro na cimeira de líderes de 12 de Fevereiro, em Bruxelas.

Passos admite haver flexibilidade para a Grécia, lembrando que isso já aconteceu no passado com Portugal, Grécia e Irlanda, dentro da situação de liquidez de cada Estado. “E não há razão para não acontecer agora”. O primeiro-ministro explica-se sobre as suas primeiras declarações em relação à posição do Syriza. “Quando eu falei de uma história para crianças referia-me à impossibilidade de impormos unilateralmente deveres de solidariedade aos outros sem termos qualquer quadro de condicionalidade a que nos obrigássemos”.

Às críticas às posições assumidas pelo Governo, pela colagem à Alemanha com o encontro entre Maria Luís Albuquerque e Wolfgang Schäuble, o primeiro-ministro diz não ter “nenhum desconforto por a senhora ministra das Finanças ter estado em Berlim”, visita que, garante Passos, já “estava prevista independentemente” de estarem a decorrer nesses dias as negociações com a Grécia. E questiona-se: “Não podemos ter sintonia com o Governo alemão? Há algum mal nisso?”.

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