Passos critica troika por dar “espectáculo público” com divergências internas

Primeiro-ministro receia efeito de contágio da instabilidade em relação à Grécia a países cumpridores e esforçados como Portugal e a Irlanda.

O primeiro-ministro criticou as instituições que compõem a troika de credores internacionais por mostrarem em público “divergências grandes” em relação às estratégias a adoptar para os países intervencionados, como aconteceu sobre a Grécia, uma vez que isso provoca “instabilidade” nas pessoas e nos mercados.

“É um prejuízo para toda a gente que as instituições da troika se coloquem no plano público com divergências tão grandes. Porque isso gera, evidentemente, instabilidade e incerteza nas pessoas, em particular na Grécia, mas também nos mercados de uma maneira geral”, afirmou Pedro Passos Coelho nesta quarta-feira à margem de uma visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém. “É claro que ajudaria que as instituições da troika evitassem este espectáculo público de estarem a dar motivos que podem suscitar a desconfiança dos mercados.”

Recusando comentar afirmações do Presidente da República que criticou o funcionamento da troika e defendeu a saída do Fundo Monetário Internacional (FMI) do grupo que monitoriza os programas de ajustamento, Passos Coelho disse “esperar” que as três instituições – além do FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu – “tivessem um comportamento de esforço para se colocarem de acordo quanto às questões principais, de modo a evitar esta incerteza e esta desconfiança nos mercados financeiros quanto à forma como os programas estão a ser executados”.

O governante realçou os “esforços imensos” que têm sido feitos pelos irlandeses e pelos portugueses para conseguirem fechar os respectivos programas de assistência financeira e realizarem o ajustamento económico que é necessário.  E que, por isso, “precisam e merecem o respeito das instituições internacionais”.

Pedro Passos Coelho receia mesmo o efeito de contágio dessas divergências no seio da troika. “Se as instituições se colocam no plano público – é verdade que não foi a propósito de Portugal – a assumir muitas divergências em relação a estes programas, aquilo que se passa é que depois os investidores começam a ter dúvidas sobre se os programas na Irlanda ou em Portugal também não conterão desvios importantes ou erros que minem a confiança dos mercados.”

Questionado sobre se esse risco é, neste momento, real, o primeiro-ministro respondeu afirmativamente. “É um risco real, mas espero que seja ultrapassado.” E fez questão de realçar que tanto a Irlanda como Portugal também têm tido uma atitude diferente da Grécia no relacionamento com a troika.

“Quer o governo irlandês, quer o governo português têm mostrado, no contacto permanente que fazem com os investidores, toda a disponibilidade para mostrar os resultados que têm alcançado, a flexibilidade que se tem vindo a adquirir [junto da troika] e o apoio que os nossos parceiros têm mostrado, nomeadamente com a extensão dos prazos para pagamento dos empréstimos que nos foram concedidos. Isso é muito importante – e representa uma diferença muito grande com o que se passou na Grécia.”

Admitindo que o relacionamento com a troika “não tem sido fácil”, Passos Coelho considera que “tem sido suficientemente bem sucedido” para já se ter conseguido, por duas vezes, “flexibilizar metas importantes para a política orçamental e para o esforço de recuperação do país”. Lembrou ainda que se o país tivesse que cumprir os limites fixados originalmente, seriam necessários níveis de contracção da actividade económica e da despesa pública “muito superiores” aos que Portugal tem agora – “ e isso não seria vantajoso no processo que estamos a fazer”. 

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