Passos Coelho ganhou novo fôlego político com a Caixa Geral de Depósitos

A investigação à CGD e as eventuais sanções de Bruxelas fizeram com que o líder do PSD reagisse, por sentir posto em causa o seu legado.

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Pedro Passos Coelho reagiu ao ataque ao seu Governo, o maior responsável pelo défice de 2015 Nuno Ferreira Santos

“Passados oito meses”. Foi assim que Passos Coelho começou esta tarde a fazer contas ao tempo que o PS leva de Governo, tanto quanto ele leva fora dele. O fato de líder da oposição ainda não lhe está à medida, mas o presidente do PSD começa a dar sinais de estar a acostumar-se à nova condição e trata de evidenciar as linhas que o separam de António Costa: a Caixa Geral de Depósitos, as sanções a Portugal e até as declarações do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaüble.

A dias do início da comissão de inquérito sobre a situação da Caixa Geral de Depósitos, o ex-primeiro-ministro diz que tem a certeza de que o banco público não precisa de tanto dinheiro para se recapitalizar como aquele de que se fala. “A Caixa não precisa de cinco mil milhões de euros e não precisa de metade disso para cumprir a sua missão”, afirmou perante uma plateia de empresários no International Club de Portugal. No mesmo almoço, pediu ao Governo que esclareça o que se passa com a CGD: “Se começarmos a criar dúvidas sobre esta matéria, o resultado será grave”, avisou.<_o3a_p>

Mas não foi só a Caixa que deu um novo élan ao líder social-democrata. Por mais do que uma vez num discurso de 25 minutos, o líder do PSD vaticinou que a política seguida pelo Governo “não pode dar bom resultado” e insistiu na ideia de que, se agora há estabilidade política, há contudo um caminho alternativo que foi interrompido e que começava a dar frutos. Este foi o discurso que levou até às legislativas e é o mesmo que repete agora quando há ameaça de sanções ao país. Tudo, acredita, porque no centro da política deste Governo deveria esta a conquista da confiança, e não está.  <_o3a_p>

“Ao nível político, começou a desenvolver-se nos parceiros europeus a percepção de que podemos estar num caminho de incumprimento. E volta e meia aparece isso em declarações públicas. O Governo tem respondido, renovando o seu compromisso de cumprir. Mas a desconfiança instalou-se”, disse Passos.<_o3a_p>

Foi a primeira vez que o líder do PSD comentou as palavras do ministro alemão, Wolfgang Schaüble, que falou e emendou declarações sobre a possibilidade de um resgate. Primeiro, Passos notou que as declarações existiram por causa dessa “desconfiança” crescente, depois acabou a pedir “comedimento muito grande” e a condenar o alemão: “Independentemente das motivações que tenham tido, sendo um ministro das Finanças da zona euro, parece-me que é uma declaração que não devia fazer”.

<_o3a_p>Mais ao menos ao mesmo tempo, António Costa demonstrava, à sua maneira, o desagrado com as declarações do ministro das Finanças alemão. “Os alemães que nos conhecem investem e confiam em Portugal”, escreveu o primeiro-ministro na sua conta do Twitter, esta quinta-feira, a partir de Vila Nova de Famalicão.

António Costa havia acabado de inaugurar uma nova unidade da fábrica da multinacional alemã Continental Mabor que nos últimos 20 anos investiu em Portugal mais de 600 milhões de euros. "Mais que previsões ou especulações, o que Portugal precisa é de investimentos concretos como este. É um grande investimento. Queremos mais”, escreveu Costa no Twitter. “Assinei o layout da nova nave industrial da Continental Mabor, a guardar numa cápsula do tempo. É, sem dúvida, um projecto de futuro.”

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A líder do CDS, que também teve um almoço para discutir política nesta quinta-feira, preferiu apenas ver as declarações de Schäuble como uma consequência do trabalho do Governo. “O que eu gostaria é que Portugal, de facto, não se pusesse nos radares e não se pusesse na situação de ser objecto de comentários porventura menos felizes", afirmou à Lusa.

Os dois partidos que formavam o Governo anterior estão juntos na leitura que fazem do trabalho do actual executivo. Passos nem se importa de não ser visto como um optimista. A verdade é que vê maus sinais no caminho que está a ser seguido. “O investimento parou”, “o crescimento não vai ser tão elevado como o Governo esperava”, as “reversões de medidas” não páram, as exportações não crescem, a escolha pelo incentivo da procura interna é um caminho que já se viu “no passado e já se sabe no que dá”. <_o3a_p>

Passos apresentou-se no seu estilo habitual, socorrendo-se de expressões populares: “Eu não sou de paninhos quentes. Sou pão-pão, queijo-queijo. Não gosto de dourar a pílula. (…) E, neste meu estilo pão-pão, queijo-queijo, digo que nós hoje temos o benefício de o Governo ter uma clarificação muito grande da situação política, económica e social. De um lado, temos o caminho do Governo, que não me cabe evitar, e do outro lado temos uma percepção das nossas limitações e um plano”, defendeu.<_o3a_p>

O caminho que defende levou-o a comprar algumas guerras nos últimos tempos, desde a crítica à evolução da economia à defesa da não revisão dos contratos de associação com colégios privados. A próxima é a comissão de inquérito à CGD, que começa terça-feira no Parlamento.<_o3a_p>

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