Passos Coelho diz ser abuso usar Grécia como motivo para repensar União Europeia

Primeiro-ministro afirma que despenalização do consumo de drogas leves, defendida por Paula Teixeira da Cruz “não está no programa do Governo”. E lamenta “Inverno muito difícil” na saúde, realçando haver falta de médicos.

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Passos Coelho: a liquidação “é sempre a pior solução e foi evitada” daniel rocha

O primeiro-ministro considera "um abuso" usar a situação da Grécia para repensar toda a Europa que, diz, tem progredido muito mas tem de criar novos mecanismos de desenvolvimento. Passos Coelho concorda que a União Europeia "tem o dever" de ajudar a Grécia a ultrapassar os seus problemas, mas não o pode fazer "de qualquer maneira".

"A Europa tem o dever e o interesse em ajudar a Grécia a ultrapassar os seus problemas. O que não pode é fazer de qualquer maneira; o que não se pode dizer é que a Grécia é um problema da Europa, dos portugueses, dos espanhóis e dos franceses", afirmou Pedro Passos Coelho lembrando que, naquele país, não se está "a começar do zero" e que "já houve dois programas de assistência".

O governante destacou que a Grécia, "desde o início da crise da dívida soberana, foi sempre tratada como um caso singular" e que foi por isso que teve "soluções que não foram aplicadas a mais ninguém". "Por exemplo, fez a reestruturação da dívida - nenhum outro país europeu reestruturou a sua dívida", salientou Passos, acrescentando que "a Grécia dispõe de mais anos para pagar os empréstimos do que Portugal ou a Irlanda", e que teve "empréstimos bilaterais que outros países não tiveram, quando passaram por estes problemas".

Passos Coelho destacou ainda outras singularidades como o facto de Portugal doar àquele país cerca de 412 milhões de euros, França perto de 740 milhões e Espanha cerca de 200 milhões - o que "nenhum outro país teve".

"O que significa que, já no passado, dada a singularidade do caso grego, se adoptaram soluções singulares e isso não é impossível de voltar a acontecer", afirmou o governante para quem "o que é importante é ter a noção de que há soluções que, quando encontradas, não podem deixar de valer para toda a gente".

Para o líder social-democrata, "há soluções que têm de ser transversais, mas pode haver soluções particulares", tal como as que Portugal e a Irlanda "acabaram por ter", em resultado da situação grega, e que foi uma menor taxa de juro dos empréstimos. "Também é verdade que a Grécia ainda hoje tem condições que mais nenhum outro país tem", reiterou.

"Há quem queira usar a situação da Grécia para repensar toda a Europa. Eu julgo que é um abuso porque a Europa tem progredido muito. Temos conseguido ser todos muito solidários, mas os problemas que ainda temos estão para além dos problemas que a Grécia ainda tem para resolver como o fim do programa da assistência", frisou.

Passos Coelho, que falava durante a cerimónia de inauguração do novo quartel dos Bombeiros Voluntários de Vale de Cambra, em Lordelo, respondia assim de forma indirecta ao secretário-geral do PS que no sábado defendeu que o problema não é só da Grécia ou de cada um dos países com dificuldades ou sob ajustamento, mas é um problema de toda a Europa e que é preciso terminar o projecto do euro.

O chefe do Governo espera que gregos consigam, também com a ajuda de Portugal, ultrapassar as suas dificuldades mas considera que não se deve atribuir à Europa todos os problemas da Grécia.

"Nós ultrapassámos as nossas [dificuldades], os irlandeses também ultrapassaram, a Espanha também. A Grécia ainda não conseguiu e, como no passado, cá estaremos todos para ajudar a Grécia a resolver os seus problemas. Mas não parece que os problemas da Grécia sejam os problemas que a Europa tem de resolver", frisou.

Destacou, contudo, que "a Europa ainda tem problemas", esperando que "não seja preciso mais uma grande crise" a nível europeu para que os seus mecanismos sejam melhorados, até porque "quem vive sob a mesma moeda precisa de uma grande articulação económica e financeira".

Despenalização do consumo de drogas leves “não está no programa”
Sobre a ideia da despenalização do consumo de drogas leves, defendida pela ministra da Justiça numa entrevista à rádio TSF, Passos Coelho realçou que "não é matéria que esteja no programa do Governo, não é uma discussão que tenha sido travada no seio do Governo".

O primeiro-ministro disse não estar a par das circunstâncias em Paula Teixeira da Cruz fez tais afirmações, e afirmou considerar que “as fez muito a título pessoal”. A ministra justificara esta sua opinião considerando que iria contribuir para que "não haja criminalidade altamente organizada e branqueamento de capitais".

Passos Coelho lamentou o "inverno muito difícil" e de "momentos trágicos" no sector da saúde, com situações "que precisam de ser avaliadas melhor". "Ainda não temos os médicos todos que precisamos, mas temos mais de tudo isso, ao fim destes anos, temos mais unidades de cuidados continuados - (...) antigamente era muito raro existir oferta nesse domínio (...) - essa rede tem vindo a ser consolidada e alargada", afirmou o primeiro-ministro num discurso em que quis lembrar o progresso no país, tanto nos últimos três anos como nos últimos 30.

"Mas temos consciência de que não podemos comparar o país de hoje com o de há três anos nem com o de há 30", salientou o governante, lembrando que os progressos nas áreas da saúde e educação "não têm comparação", muito graças à "extraordinária aventura do projecto europeu". Acrescentou que "o que país conseguiu, neste projecto europeu, é uma coisa que deve dar incentivo e alento para continuar", destacando como Portugal tem "níveis de bem-estar associados à saúde, que têm progredido continuamente".

Passos Coelho defendeu ainda ser importante prevenir situações e fazer melhor planeamento, para melhores resultados em várias áreas, incluindo a da saúde pública. "Quanto não seríamos tentados a antever como bons resultados que apresentaríamos na sociedade, se houvesse maior prevenção e melhor planeamento", atirou.

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