Passos Coelho defende que 2015 oferece “perspectiva mais positiva e de esperança”

Primeiro-ministro diz que Portugal tem actualmente um “crescimento saudável e sustentável”.

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Passos no debate quinzenal desta sexta-feira Daniel Rocha

Foi com uma espécie de revisão da matéria dada por entidades como o Banco de Portugal, Instituto Nacional de Estatística, Comissão Europeia e OCDE que o primeiro-ministro tentou esta sexta-feira traçar um panorama da economia portuguesa para defender que em 2015 “oferece-se uma perspectiva bem mais positiva e esperança a todos os portugueses”.

Na sua intervenção de abertura do último debate quinzenal do ano, Pedro Passos Coelho defendeu que a economia portuguesa registou “um crescimento moderado”, mas que se trata, no entanto, de um crescimento “sustentado”.

Porque, argumentou, está “apoiado – o que é significativo - em contas externas positivas, mas também em exportações que mantêm tendência de crescimento apesar da adversidade externa, com menor procura externa do que seria desejável. E há também uma retoma da procura interna que “não põe em causa o equilíbrio externo”.

A estes argumentos, acrescentou o do aumento do investimento que se tem dirigido, no sector privado, para maquinaria – em vez de vir do Estado, “transformado em betão e economia protegida” -, o que abre a perspectiva de um aumento do produto. E o consumo privado tem vindo a “retomar paulatinamente” e não está a ser feito à custa nem do endividamento do sector bancário nem das famílias.

O discurso do chefe do Governo foi feito, no entanto, num tom sem entusiasmo para quem estava a defender os sucessos das suas políticas. Vincando, a par e passo, que se trata de um crescimento “moderado”, admitiu também que desejaria uma “recuperação mais vigorosa da economia” e que, no caso das desigualdades sociais, há ainda uma “assimetria demasiado cavada que tem que ser corrigida” – mas não disse como.
 
O "mexilhão" de Ferro e Jerónimo
Na resposta, o socialista Ferro Rodrigues tentou contrariar a ideia do primeiro-ministro de que quem "se tramava [com as políticas do Governo] não era o mexilhão”. Citou uma mão cheia de indicadores, como o desemprego, o aumento da pobreza infantil ou dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção. “Trata-se ou não de mexilhão”, perguntou o líder parlamentar do PS, depois de acusar Pedro Passos Coelho de estar “em trânsito de uma estratégia neo-liberal para uma estratégia neo-populista”.

Numa intervenção posterior, Ferro concretizou o que entendia por “neo-populismo”, ao lembrar intervenções de Passos Coelho em que este se mostrou “satisfeito com a queda daqueles que chama os mais poderosos”.

Jerónimo de Sousa haveria, depois, de criticar a “propaganda” de Passos sobre a empregabilidade de 70% dos programas de estágios que o primeiro-ministro acabara de dizer a Ferro Rodrigues. “Dizer que quem se lixou não foi o mexilhão, foi quem tinha mais, como o sr. primeiro-ministro disse, demonstra insensibilidade social, e ofender os milhares de portugueses que sofreram durante três anos os resultados destas políticas”, acusou o líder do PCP. Que acrescentou que “existem mais 600 mil pobres”.

“Não seja insensível. Pode fazer propaganda, mas não minta assim”, pediu Jerónimo. “A OCDE veio revelar que o fosso entre ricos e pobres está agora no pior nível dos últimos 30 anos”, acrescentou o secretário-geral comunista. “Não venha com o argumento que a Grécia está pior que Portugal. Até podemos dizer que estamos melhor que o Biafra! Afinal, quem se lixou foi quem menos tinha”, disse ainda.

Jerónimo de Sousa haveria de contrariar também a ideia de Passos Coelho de que os chamados donos do país estão a desaparecer. “Não são os donos deste país que estão a desparecer. O que está a desaparecer é o património público do país e dos portugueses, que está a ser entregue aos estrangeiros”, apontou ainda o líder comunista exemplificando com o desmantelamento da PT e com a anunciada venda da TAP.

A "diferença" entre o BESA e o BPN
A coordenadora do BE, Catarina Martins, questionou o primeiro-ministro sobre as “diligências” que o seu Governo “tomou” para que a garantia angolana em relação ao BESA “não fosse rasgada”.

Passos Coelho afirmou não ter resposta para dar, uma vez que essa era “competência do Banco de Portugal”. Mas sempre afirmou que "o BES não era um banco público, era um banco privado, e as garantias que possam ter sido oferecidas seja por quem for relativamente a créditos das instituições respeitam às instituições e neste caso, tratando-se de instituições financeiras, ao Banco de Portugal", sustentou.

De seguida, a líder do BE acusou Passos de ter um tratamento diferenciado nestes dois casos: "Quando foi da comissão de inquérito ao BPN, o senhor primeiro-ministro e o seu Governo envolveram-se pessoalmente em negociações com o governo angolano para garantir a venda do BPN ao BIC".

"É dificil perceber como é que na altura considerava que o seu Governo devia interceder junto das autoridades angolanas porque estava o interesse nacional em causa e agora não tem nada a ver com isto", afirmou, considerando ter havido uma “venda de favor ao capital angolano”, a que chamou os “novos donos disto tudo”.

Estas afirmações levaram o primeiro-ministro a pedir a defesa da honra. Para lá da revolta pela acusação de “venda de favor”, que Passos classificou como “insinuações soezes” depois de garantir que não fazia nem pedia “favores a ninguém”, Passos Coelho respondeu que a diferença entre o BPN e o BESA era o facto do primeiro ter sido “nacionalizado”, existindo a obrigação de resolver a situação no Memorando de Entendimento.

CDS recupera “lagosta” socialista
O líder parlamentar do CDS aproveitou a maior parte da sua intervenção para confrontar o PS. Acusou o principal partido da oposição de ser tornado “mais troikista que a troika” por acreditar mais nas “previsões da União Europeia do que nas do Governo”.

Sobre a debate a propósito do “mexilhão”, foi ao passado recordar as PPP e outras despesas do Estado para as classificar como as “lagostas” da responsabilidade do PS. E deixou um desafio a Ferro Rodrigues sobre a TAP, depois do socialista ter considerado como uma questão de “soberania nacional” a manutenção da empresa sob o controle do Estado: “Qual era o imposto que o PS aumentava para os 300, 400 ou 500 milhões necessários para recapitalizar a TAP?” 

  


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