Passos anuncia o fim da recessão em 2013

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Passos Coelho não teve muitos aplausos dos miliantes Vasco Célio

Há uma grande distância entre a festa do Pontal do ano passado e a deste ano e não é apenas a das paredes que rodearam este discurso da rentrée do primeiro-ministro.

Foi o próprio que marcou essa diferença: se há um ano estávamos a entrar na grande depressão, como mostrou a realidade que contradisse as previsões, este ano estamos a começar o percurso da retoma. Pedro Passos Coelho nunca usou a palavra, foi até bastante cauteloso, mas deixou clara a mensagem. “Estamos mais próximos de vencer a crise e voltar uma das páginas mais negras da história da nossa pátria.” Mais: “2013 será o ano da inversão na actividade económica.” Ou ainda: “2013 será o ano da estabilização económica e preparação da recuperação.”

No salão onde se fazem casamentos e baptizados na estrada a caminho de Quarteira, o comício de Verão do PSD deste ano aconteceu num ambiente morno e sem entusiasmo, com bandeiras só agitadas à entrada do líder, sem muitas palmas nem picos de emoção.

Passos fez um discurso essencialmente justificativo. É certo que nem todas as previsões do governo bateram certo, e o primeiro-ministro reconheceu-o quando disse que nem em 2011 a crise foi tão profunda como se esperava, nem as perspectivas fizeram adivinhar um 2012 tão difícil como está a ser. Principalmente ao nível do desemprego, frisou, respondendo à oposição que, durante o dia e face aos números conhecidos — contracção da economia em 1,2% do PIB no segundo trimestre e uma nova taxa recorde de desemprego de 15% —, acusaram o Governo de ter falhado nas políticas e desafiaram Passos a não fugir aos temas difíceis.

Desta vez o primeiro-ministro tem certezas porque, apesar das estatísticas, “há pormenores para onde vale a pena olhar”. Passos não maçou os 1500 convivas que o ouviram durante mais de 40 minutos com pormenores. “No que é importante, não falhámos. Era importante controlar o défice e fizemo-lo. O país não está a aumentar a dívida, não estamos a endividar-nos mais do que podemos pagar.”

Esta tarefa é tão importante que não pode voltar a ser posta em causa, disse. “Ainda há quem pense que, passada a crise, o regabofe pode voltar. Enganam-se!” Para reintroduzir na agenda o tema quente da regra de ouro, ou seja, da inscrição do limite ao défice na Constituição.

“Há uma regra de ouro na vida de um país que está acima dos partidos: gaste o Governo o que e onde gastar, não temos o direito de comprometer o futuro das próximas gerações”, defendeu. “Se queremos que o nosso esforço não seja inglório, que não seja o menino deitado fora com a água do banho, temos de a consagrar, para que não volte a ser preciso cortar subsídios de férias e de Natal”, realçou.Se no plano europeu, a evolução do entendimento sobre o Pacto Orçamental deixou cair a necessidade de inscrição desse limite na lei constitucional, e se o líder do PS, António José Seguro, a tem recusado sempre, Passos Coelho deixou claro que é aí que gostava de o ver inscrito: “Às vezes gostava que a Constituição fosse outra e não perdi a esperança.”

Depois, Passos voltou ao presente e aos desafios que ainda tem pela frente este ano. A começar pelo Orçamento de Estado. “Temos de cumprir as metas orçamentais e ainda encontrar outra medida de efeito orçamental equivalente ao corte de subsídios. Não vai ser fácil, mas temos de o fazer e serei eu próprio a anunciá-lo no momento certo”, avisou. Sabendo-se que Passos gosta de afirmar que é sempre ele quem dá as más notícias, a frase soou a prenúncio de medidas duras.

Seja como for, Passos promete muito diálogo: com os parceiros sociais e com a oposição, em especial o PS. Mas é pelos cidadãos — “os guardiães daquilo que está a ser feito” — que espera ser reconhecido. Afinal, Passos confessou que está interessado nas eleições. “Só estamos a um quarto do mandato e temos a ambição de renová-lo”, reconheceu.Já antes, o vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva pedira empenho para vencer “as eleições dos Açores e as próximas autárquicas”. Antes ainda, o líder regional, Luís Gomes, prometeu o empenho do PSD.

Algarve nas próximas campanhas. Coube ao presidente da Câmara de Loulé lembrar “o papel que as autarquias locais têm” na concretização do papel do Estado e como a Lei dos Compromissos “limita a sua acção”. “É também o Estado que fica diminuído em função dessas limitações”, frisou Seruca Emídio. Que insistiu num pedido: a construção do Hospital Central do Algarve. Mas nem uma palavra se ouviu de Passos sobre o assunto.

Perante o coro de críticas sobre a escolha do salão de festas de um parque aquático para a festa, o presidente da secção de Loulé respondeu de forma inesperada: “Esta é a maior sala ao ar livre do concelho, parabéns pela escolha.” Os olhares elevaram-se e então percebeu-se. Havia uma enorme clarabóia descoberta, no centro da sala. Ainda bem que não choveu. As mesas de honra estavam mesmo por baixo.

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