Os sete dias que deram “ânimo” a Nóvoa para a segunda-volta

A campanha percorreu o país de norte a sul numa semana, e o candidato foi quase sempre bem recebido. Mas onde está a juventude na candidatura que anuncia um “tempo novo”?

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Mais professores que estudantes, mais quadros que precários nos actos de campanha do antigo reitor MARCO DUARTE

Sampaio da Nóvoa está a terminar a volta pela Afurada, freguesia de pescadores de Vila Nova de Gaia, no estuário do Douro. Passa por dois que estendem redes no cais e pergunta se pode ajudar. Um deles ensina-lhe e o candidato desembaraça-se à frente dos repórteres. “Então e o peixe? Não vem atrás?”, graceja.

No dicionário dos termos piscatórios, que se pode consultar num ecrã táctil no Centro Interpretativo do Património da Afurada, há um conceito que define a primeira metade da campanha: “Chincha: rede de arrastar de pequenas dimensões.”

Há pouca gente nas ruas, há pouco espaço mediático, parece haver pouco interesse no país. Esse pode ser o principal problema da candidatura. Saber como colocar em primeiro plano uma eleição remetida para um lugar secundário da atenção colectiva é a prioridade.

Nóvoa não se pode queixar da mobilização, nesta “bolha” em que se desloca pelo país. Foi, em sete dias, a Seia, Guarda, Mangualde, Viseu, Espinho, Oliveira de Azeméis, Aveiro, Cantanhede, Coimbra, Covilhã, Castelo Branco, Campo Maior, Évora, Beja, Aljustrel, Lagos, Portimão, Faro, Coruche, Abrantes, Marinha Grande, Porto, Gaia, Póvoa de Varzim e Matosinhos. Só Beja deixou a desejar.

Em Viseu, Aveiro, Faro, na Póvoa e em Matosinhos, o entusiasmo terá superado as espectativas. “A campanha vai decorrendo de forma muito positiva. Ganhou dinâmica. Estamos muito confiantes. Todos os dias em contacto com as pessoas essa confiança é reforçada”, avaliou Sampaio da Nóvoa, sexta-feira, na Afurada.

Desde que iniciou, oficialmente, a campanha, em Seia, às 13.10 de domingo, dia 10, Nóvoa repete que a eleição não termina a 24. “Isto não vai parar. A 9 de Março vamos dar posse a este novo tempo”, prometeu em Faro.

O entusiasmo explica-se numa palavra: debates. “Os debates desencadearam um ânimo grande nesta candidatura”, reconheceu Nóvoa. Muitos cidadãos dizem-lhe isso. Que gostaram da forma como enfrentou Marcelo, sendo “educado” e sem “discursos rudes”.

Na primeira semana, no entanto, os temas que lançou para a campanha foram caindo no saco roto da desatenção às presidenciais. Falou do “desperdício” que é manter a situação de “desigualdade do interior”. Apontou a “educação e o conhecimento” como porta de saída para a crise. Apresentou a sua visão optimista do poder presidencial, capaz de influenciar e “bater-se por causas”.  Defendeu a Constituição como o seu “programa” e explicou como o texto fundamental é o traço de “união” que o país precisa – “é a solidariedade que nos torna um povo”.  Afirmou querer contribuir para uma “voz crítica” na Europa e prometeu referendar futuras “limitações à soberania”.

Deu toques numa bola de futebol, cantou abraçado aos mineiros de Aljustrel, lançou cavacas do cimo da Igreja de São Gonçalinho em Aveiro. Mostrou-se cada vez mais à vontade nos contactos de rua e até ouviu gritinhos de adolescentes quando as foi cumprimentar na Póvoa.

Mas tem outro ponto fraco. Além dos cinco jovens que integram a comitiva, e que geralmente vão à frente a distribuir panfletos e a abordar as pessoas, esta é uma campanha sem vestígio de juventude. Nos comícios a média etária é alta. Há mais professores universitários do que estudantes, mais quadros do que precários. Só na sexta-feira, o programa contemplou um encontro com jovens, no Porto. Sendo a “participação” uma das bandeiras de Nóvoa, que se apresenta como o “cidadão Presidente” que não vem dos partidos e quer combater a abstenção, a ausência da faixa etária que mais se tem afastado da política não é bom augúrio.

Essa pode ser a chave para o desafio que tem pela frente na última semana: convencer os abstencionistas de que é o melhor colocado para dar mais uma oportunidade a esta eleição de se tornar interessante e forçar a segunda-volta.

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