Os mandamentos

Não me admiraria que o dr. António Costa, demonstrando a sua inigualável habilidade táctica, fosse uma infiltração dos “Verdes”.

O sr. primeiro-ministro, dr. António Costa, deu três conselhos soberanos à Nação Portuguesa, que nos cabe agora respeitar e seguir. Primeiro, que deixássemos de fumar. Segundo, andássemos de transportes públicos. Terceiro, que não pedíssemos dinheiro emprestado, sobretudo aos bancos. Estes mandamentos, cuja genialidade e subtileza ninguém põe em causa, são no entanto um pouco ambíguos e de certa maneira incompletos. Numa interpretação superficial, parecem regras para o cidadão comum (e o patriota) para evitar o imposto. Mas mesmo nessa compreensível hipótese, deixam muito a desejar. O dr. António Costa não se lembrou de outros preceitos com um resultado mais fácil e seguro. Por exemplo, deixar de trabalhar, deixar de comer, abandonar a família e viver na rua. O pior é que essas medidas prejudicariam o consumo de que ele espera a prosperidade do país.

Dito isto, nada excluiu que o dr. António Costa não estivesse a pensar nos mesquinhos problemas da fiscalidade e pretendesse com as sua preciosa experiência paternalmente promover a saúde dos portugueses. O ataque ao imundo vício do tabaco não precisa de explicações. Infelizmente não chega para criar um eleitorado que possa votar nele em 2065. O Estado já reduziu o sal no pão e criou a ASAE. Mas falta ainda combater o vinho e, em geral, impor uma “lei seca” inflexível, que permita retirar de circulação as pessoas com maus costumes, principalmente aquelas com um estilo de vida incompatível com a construção da nova página do socialismo e com a maravilhosa liberdade que nele reinará.

Numa terceira e última interpretação, não me admiraria que o dr. António Costa, demonstrando a sua inigualável habilidade táctica, fosse uma infiltração dos “Verdes” da Europa e do nosso próprio PC para pura e simplesmente liquidar o automóvel. Com esta astuciosa política, o PS e o mestre que hoje o dirige conseguiriam objectivos capazes de espantar a massa vil que povoa o Oriente e o Ocidente. Para só falar em alguns, a igualdade perante o transporte seria absoluta, poupando à pobreza e à velhice o espectáculo degradante dos carros do capitalismo de casino e mais maroteiras. Depois não se devem esquecer os benefícios da bicicleta que suprime a barriga (até a do nosso chefe) e purifica o ar. Nem subestimar o que a bicicleta (e o triciclo) fazem pelo regresso a uma sociedade mais rural e mais sã. O coração do dr. António Costa é maior do que a razão da plebe.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários