A passagem do Orçamento do Estado pelo Parlamento tem de seguir e respeitar uma série de etapas, passar pelas várias comissões e ser discutido e votado. O debate na especialidade, que arranca na próxima semana, é altura de os partidos proporem alterações para melhorar o documento, que bem precisa. Mas a julgar pelo debate na generalidade, mais reservado à discussão política, e já com bastante crispação política, é de prever que o Orçamento saia da Assembleia no dia 25 de Novembro tal como entrou no dia 15 de Outubro.

Aliás, durante a sessão plenária esta sexta-feira, os partidos passaram mais tempo entretidos a discutir a “assombração” de José Sócrates do que propriamente a discutir sobre a substância e sobre as opções políticas de um documento que condicionará, e de que que maneira, a vida dos portugueses em 2015.

Este Orçamento do Estado, tal como os anteriores, continua demasiado refém de medidas temporárias e sobretudo do lado das receitas. E nem do lado dos partidos que apoiam o Governo, nem do lado do maior partido da oposição, se vislumbra a mínima vontade de querer melhorar o documento.

Apesar de ainda faltar um ano para as legislativas, a verdade é que os partidos já estão a entrar num clima de pré-campanha eleitoral de forma bastante precoce, quando o país ainda tem pela frente um ano, sem troika é verdade, mas ainda com grandes desafios pela frente, precisando para tal de um orçamento minimamente consensual possível.

E o tom (e a temática) do debate esta sexta-feira é uma prova de que, com o aproximar das eleições, pouco ou nada se discutirá sobre as opções para o futuro, mas sim um ajuste de contas em relação ao passado. A discussão esta sexta-feira sobre o “fantasma” de Sócrates é exactamente igual àquela de 2011 que entretanto foi interrompida pela crise. E quando a crise dá sinais de amainar, e depois de aguentarem três anos de austeridade, os portugueses mereciam mais.