“Os decisores não devem ter medo de actuar”, afirma Cavaco

Sem nunca se referir à TAP, o Presidente da República desejou ao Conselho da Diáspora que “tudo corra bem na viagem de regresso”.

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Cavaco Silva e Paulo Portas no encontro do Conselho da Diáspora Daniel Rocha

Cavaco Silva foi enigmático, mas terminou o discurso que fez no encerramento do encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa com votos de um bom Natal “e que tudo corra bem na viagem de regresso”. Uma referência implícita à greve na TAP marcada para entre os dias 27 e 30 de Dezembro, que permite pensar que também tinha em mente a venda da transportadora aérea quando, pouco antes, afirmou: “Os decisores não devem ter medo de actuar nem adiar o que é fundamental fazer.”

Numa altura em que o primeiro-ministro e o líder do PS se envolveram numa troca de argumentos sobre a privatização da TAP, com António Costa a afirmar que "há alternativas à privatização", referindo explicitamente "um aumento de capital em Bolsa", o Presidente da República foi desafiado por Marcelo Rebelo de Sousa a dar a sua opinião sobre o assunto. Cavaco não esteve disponível, nesta segunda-feira, para falar aos jornalistas – assim como não estiveram Paulo Portas ou António Pires de Lima, também presentes na Cidadela de Cascais, onde decorreu o encontro da diáspora portuguesa. Mas deixou recados, sem se referir a nenhum dossier em especial.

Apelou, desde logo, à preparação: “É fundamental que os decisores actuem com bom conhecimento da realidade. Isso pressupõe uma informação credível e uma análise fundamentada", afirmou, recusando que a decisão política se faça com base em "meros improvisos". Chegou a dizer que "no discurso, pode-se dizer tudo aquilo que vem à cabeça, incluindo os maiores disparates, mas a realidade acaba sempre por impor-se, às vezes com um certo atraso, e há sempre alguém a pagar a factura".

A seguir, apelou à acção. "Neste momento, manter as coisas como estão e ter medo da mudança é um dos riscos que nós corremos. Penso que o Conselho da Diáspora pode dar uma ajuda para que Portugal e os nossos decisores políticos não tenham medo de actuar e não adiem demasiado as decisões que são fundamentais tomar", afirmou então.

"O novo ciclo"
Na presença do presidente do PS, Carlos César, que também não falou aos jornalistas, Cavaco Silva lembrou que “Portugal vive um novo ciclo da vida nacional”. Referiu-se explicitamente à conclusão do programa de assistência financeira “com sucesso” sem precisar “nem de um segundo resgate, nem de um programa cautelar” - como apontavam os socialistas há um ano. Mas o novo ciclo do país aponta também para o final de ciclo político, uma vez que estamos a cerca de nove meses de eleições legislativas e pouco mais de um ano de presidenciais. O que significa que os grandes dossiers, como a privatização da TAP, podem só ficar concluídos com o novo Governo.

Nesse novo ciclo, que antes Cavaco chamava o “pós-troika” e para o qual tem vindo a pedir compromissos, insiste em avisar que "Portugal tem ainda à sua frente grandes desafios muito exigentes. Portugal continua a enfrentar fortes restrições e ser-lhe-ão colocadas grandes exigências no futuro. É uma ilusão pensar que os problemas do país estão resolvidos. Tal como é uma ilusão pensar que os problemas podem ser resolvidos num contexto de facilidades", afirmou.

Só à tarde, quando o Governo foi a Belém apresentar votos de boas festas ao Presidente da República, é que Cavaco voltou a referir-se à necessidade de compromisso “diálogo, franco, aberto e cooperação institucional”.  Apontou, entre os "sinais positivos em 2014", o "aumento do número de personalidades e organizações que apelaram ao compromisso e ao diálogo entre as forças políticas".

Essas personalidades e organizações estão "conscientes que o país enfrenta desafios do tempo longo, desafios complexos, que se prolongam por um horizonte temporal alargado que ultrapassa o tempo normal dos governantes", sustentou o Chefe de Estado. Mas deixou avisos: "Eu sei muito bem que o ano de 2015 não vai ser um ano fácil para quem tem a responsabilidade de governar. Eu sei muito bem que o Governo enfrentará desafios complexos, grandes exigências, e que há muitos desejos que não podem ser concretizados no curto prazo".

Passos Coelho, nessa cerimónia, preferiu falar apenas do ano que agora termina, para lembrar que “foi bastante intenso”, salientando ter sido possível terminar o programa de ajustamento mantendo a confiança das instituições internacionais e “preservando a paz e coesão social”. O que, diz, permite esperar “resultados esperançosos”.

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