Onde estão as origens do Bloco?

Pedro Filipe Soares, líder da bancada parlamentar, está a desafiar a actual liderança.

Um "regressar às origens" do Bloco de Esquerda. Foi assim que Pedro Filipe Soares definiu esta terça-feira a moção que apresentará na convenção do Bloco que se realizará a 22 e 23 de Novembro, em que irá disputar a liderança do partido com a dupla Catarina Martins/João Semedo. Para o actual líder parlamentar, que no partido representa a tendência Esquerda Alternativa (ex-UDP), um regresso às origens significa assumir o papel de partido de protesto e fugir do PS como o diabo foge da cruz. Outros que também contestaram a actual liderança do Bloco, como Ana Drago, afastaram-se da actual direcção precisamente pelo contrário; por acharem que o Bloco até podia aproximar-se do PS ou do Livre. E é nesta indefinição de estratégia que tem vivido o Bloco que, a cada eleição que passa, se vai transformando num partido irrelevante no actual xadrez político.

A dissonância de Pedro Filipe Soares da actual liderança é só mais um sinal. Longe vão os tempos em que o Bloco se fazia representar no Parlamento por 16 deputados. Numa coisa o líder da bancada bloquista acertou em cheio; o modelo de liderança bicéfala não tem pernas para andar. “Não foi aceite pela população”, como diz Filipe Soares e, do ponto de vista político, mostrou-se completamente ineficaz. E não é por acaso que a actual direcção está a tentar arrepiar caminho, sugerindo uma liderança única, mas com funções diferenciadas para Catarina Martins e João Semedo.

Pedro Filipe Soares tem toda a legitimidade para avançar para a disputa da liderança. Mas estranho, para não dizer bizarro, é o facto de se manter como líder da bancada parlamentar, um cargo de confiança política da direcção do partido. Faz sentido ter à frente da bancada alguém que não concorda com a actual linha que está a ser seguida pelo partido? É só mais uma das muitas contradições que o Bloco terá se resolver se não quiser desaparecer do mapa político.

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