O pesadelo do PNR é Portugal "transformado num gigantesco Martim Moniz"

PNR convocou um meet para a praça mais multicultural da capital. O partido garante não estar contra os estrangeiros, mas contra os políticos. Contudo, atacou apenas um.

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Manifestantes do PNR este sábado no Centro Comercial da Mouraria, em Lisboa Miguel Madeira

“A nossa verdadeira acusação não vai para estas pessoas, mas contra os políticos!” Já depois da volta à praça, foi assim que o presidente do PNR, José Pinto-Coelho, explicou a razão de ser do meet nacionalista, organizado este sábado no Martim Moniz, em Lisboa.

Foi na praça mais multicultural da capital que se juntaram os apoiantes daquele partido para protestarem contra a descaracterização da identidade portuguesa, que, na opinião do PNR, arrisca ser “subjugada” por “usos e costumes contrários à nossa matriz.”

Por mais de uma vez, aquele dirigente fez questão de frisar que o alvo não são os imigrantes de origem asiática, magrebina e africana que se concentravam por ali. “Os grandes culpados são os políticos que empurram os portugueses para a emigração e que depois subsidiam esta invasão”, explicou ao PÚBLICO. Não foi uma questão de pele, garantiu, que os levou ali. Foram os políticos que permitiram uma “invasão, que não é inocente”, insistiu.

O problema do PNR, contudo, é a aparente contradição entre esse discurso e as mensagens subliminares ou os desabafos dos apoiantes quando se vêem confrontados com o desafio do diferente.

Uma contradição que saltou à vista, logo que Pinto-Coelho personalizou o ataque. Depois de tantos governos – tanto de direita como de esquerda – com um discurso favorável em relação à entrada de imigrantes, o presidente do partido apontou o dedo apenas ao presidente da câmara de Lisboa, António Costa. Que acusou de ter como “agenda política transformar Portugal num gigantesco Martim Moniz”.

Depois disso, atacou os políticos que “obrigam os portugueses a passar fome e a abandonar o seu país”, sem nunca se referir, por exemplo, ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que há dois anos considerava a emigração como uma “oportunidade” para os mais jovens.

O verniz da mensagem polida também estalou mais facilmente quando quem começou a falar não fazia parte da direcção. A dada altura, quando o grupo saía já do Centro Comercial da Mouraria, depois da intervenção dos seguranças privados, dois jovens participantes faziam o balanço da passagem pelos corredores ocupados por lojas de chineses.

“Isto é de ficar de olhos em bico”, atirou um. “Um gajo até fica laranja”, respondeu o outro.

Momentos antes, o vice-presidente do PNR, João Pais Amaral, pediu à “fila indiana” para não tirar fotos no interior do recinto comercial. “Ninguém quer fotos porque aqui não há facturas”, gritou com um sorriso nos lábios.

Ao longo da volta, foi notório o esforço da organização para evitar provocações. Quando o ajuntamento arrancou para dar a volta à praça, seguiu-se silêncio, em “fila indiana” como solicitado, e sem palavras de ordem. A assinalar o partido, apenas duas bandeiras e uns quantos coletes fluorescentes com a sigla PNR. As insinuações foram subliminares e, como tal, os visados nem se aperceberam quem estava ali a passar-lhes pela porta dos estabelecimentos comerciais. Uma idosa de etnia cigana, ao ver passar a comitiva, julgou ver no ajuntamento algo diferente. “Mais um deputado?”, perguntava desconfiada.

Não foram os imigrantes, portanto, quem reagiu à passagem da coluna. Foi na rua, quando os manifestantes se preparavam para entrar no segundo centro comercial, que a palavra de ordem “Portugal” provocou uma desgarrada com o grupo de jovens que perseguia a coluna.

“Antifascista!”, começou a ouvir-se do centro da praça. “Portugal sempre!”, gritaram em resposta. “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!”, contra-atacava um grupo de jovens. “Portugal independente!”, vociferavam os apoiantes do PNR. “Nazis, fascistas, chegou a vossa hora, os imigrantes ficam, vocês vão embora!”

O contingente policial à vista – que por esta altura já contabilizava cerca de 20 elementos – foi controlando a situação com duas barreiras de agentes até que os dois lados perderam o interesse na disputa verbal.

Do lado do contra, os sorrisos imperavam, como se uma batalha tivesse sido ganha. Enquanto o grupo cantava “Grândola, Vila Morena”, Pedro Lima, que garantiu não fazer parte de qualquer partido, explicou ao PÚBLICO que a comparência dos cerca de 20 que ali estavam resultava dos alertas lançados pelas redes sociais. Houve “eventos criados” no facebook a defender uma resposta, explicava Pedro Lima. “E grupos diferentes de pessoas apareceram”, rematou.

Quando Pinto-Coelho começou a discursar, já esse grupo ficara à distância, controlado pela polícia. De onde estavam, não ouviram o presidente do PNR alertar para a “invasão que não é inocente” dos “que hoje nos impõem os seus costumes” e que “amanhã não só nos vão impor o seu modo de vida, como, acreditem, nos vão subjugar”.

Também já lá não estava o marroquino Youssef, de 40 anos e há vinte em Portugal, que sozinho cerca de uma hora antes, desafiara violentamente os manifestantes, apelidando-os de “fascistas” e “assassinos”.

“O que eu gostava de saber é o que é que estes tipos dizem entre eles quando vêem aquelas notícias de portugueses que estão a viver noutro país e são maltratados…”
 

   

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