“O país que ignora a história tende a repetir os mesmos erros no futuro”, avisa Cavaco

Presidente da República defendeu o papel “essencial” das Forças Armadas e deixou apelo ao Governo para mais meios e recursos.

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Discurso foi interrompido durante 20 minutos devido à "indisposição" do Presidente Adriano Miranda

Durante a cerimónia marcada por uma indisposição, que obrigou à interrupção do seu discurso durante 20 minutos, o Presidente da República deixou um recado directo ao Governo, defendendo para as Forças Armadas “meios e recursos” que evitem a degradação das capacidades. E também um aviso mais geral: um país que “ignora a História, que não recorda e não aprende com o seu passado, tende a repetir os mesmos erros no futuro”.

Cavaco Silva usou como base do seu discurso o centenário da primeira Grande Guerra que se assinala este ano, mas com referências que podem ser lidas num contexto actual.

Lembrou que o tempo que precedeu o conflito foi “marcado pelo progresso tecnológico e pela inovação artística e cultural” e que a decisão de participar no conflito “foi tomada sem os indispensáveis consensos e sem ter em conta a débil capacidade militar existente”. Acrescentou, pouco depois, que “houve incúria na preparação, alheamento na execução e esquecimento no regresso. As decisões tomadas nos corredores de Lisboa não se revelaram ajustadas, ignoraram-se os avisados pareceres militares, interferindo abusivamente na acção de comando.”

Perante isto, “foi somente a coragem, a valentia demonstrada pelos soldados no campo de batalha que permitiu honrar Portugal” e salvaguardar as possessões ultramarinas portuguesas, realçou o Presidente.

“Este centenário deve, também, constituir-se para a Europa e para o mundo como um momento de reflexão sobre os rumos e as opções que diariamente se assumem”, avisou o chefe de Estado, que considera que se assiste hoje a uma “perigosa indiferença” perante importantes questões de segurança.

Negligenciam-se, considera Cavaco Silva, as causas geradoras de conflitos, como é o caso dos “nacionalismos e a irrupção das tendências separatistas”, como o demonstraram as recentes eleições europeias, com o aumento da votação em partidos de causas nacionalistas e radicais.

Um alerta de que a paz e a segurança a médio e longo prazo podem estar em risco no Velho Continente. Por isso mesmo, o Presidente considera que “é essencial a existência de Forças Armadas prontas e preparadas para servir o país, com uma capacidade de resposta adequada e assente na eficácia da organização, na qualidade dos equipamentos e na motivação dos seus quadros e tropas”.

Cavaco Silva, que é por inerência chefe supremo das Forças Armadas, recordou que este processo é complexo e obriga a uma “preparação rigorosa e demorada”. “Os exércitos não se improvisam, preparam-se.”

A integração de Portugal em organizações e alianças internacionais implica a sua prontidão de resposta. “A nossa participação requer a existência de meios e recursos que evitem a degradação das capacidades existentes e que permitam assegurar os necessários níveis de operacionalidade.”

Daí que seja imperioso salvaguardar a capacidade operacional de forma a ter umas Forças Armadas “credíveis, coesas e treinadas”, e dar especial atenção às pessoas que as compõem e “aos problemas concretos dos militares” – e sobretudo resolvê-los rapidamente. Um recado direitinho para o Governo, que se fez representar, além do primeiro-ministro (que cancelou a ida ao Brasil), por vários ministros como os da Defesa, de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

“Pela sua importância e pelos reflexos na coesão, no moral e na disciplina, é legítima a expectativa dos militares quanto ao processo de instalação do Hospital das Forças Armadas e, também, quanto ao resultado do trabalho conjunto entre os chefes militares e a tutela em relação à proposta de revisão do seu estatuto.”

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