O outro lado da governação são os amigos

Entre explicações mornas de uma reforma - a do poder local - que ficou por concluir, só houve um momento de exaltação e entusiasmo que despertou a plateia. O elogio de Barroso a Passos.

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Fotos Nuno Ferreira Santos
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"Tudo bem, tudo em ordem?”, pergunta Pedro Passos Coelho, selando num abraço o encontro com Miguel Relvas. O primeiro-ministro foi o último a chegar à apresentação do livro O outro lado da governação, de Relvas e Paulo Júlio, antigo secretário de Estado da Administração Local e da Reforma Administrativa. Ambos já saíram do Governo há muito tempo. O ex-ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares por ter confessado falta de ânimo no turbilhão dos créditos da sua licenciatura na Universidade Lusófona. O seu antigo secretário de Estado demitiu-se quando foi acusado, enquanto presidente da Câmara de Penela, de um crime de "prevaricação de titular de cargo político". Ambos falaram da reforma da administração local. Entre amigos.

“É um convite de um amigo e é muito difícil dizer não a um amigo”, justificou José Manuel Durão Barroso a sua condição de apresentador da obra. “A minha presença é um acto pessoal, muito pessoal, entendo que devo estar aqui e estou”, disse, ao PÚBLICO, a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. Também o ministro Luís Marques Guedes, que de alguma forma herdou funções de Relvas no organigrama governamental, esteve presente. Como o secretário de Estado Sérgio Monteiro, um conviva tardio que ficou em pé, junto à porta, de um salão de um hotel de cinco estrelas ocupado por cerca de 300 convidados. Ou os secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, do Desporto, Emídio Guerreiro, e da Cooperação, Luís Campos Ferreira. Feitas as contas possíveis, foram estes os membros do executivo que estiveram presentes.

Entre os deputados da maioria, presença maciça e diversificada da bancada do PSD. “É um livro, é um testemunho, estou aqui como amigo, também fui ouvido para a realização do livro”, disse, ao PÚBLICO, Luís Montenegro. Convidado a um flashback da situação do executivo quando Miguel Relvas deixou de ser ministro, o líder da bancada laranja admitiu que foram tempos de dificuldade. “A primeira parte da legislatura foi muito intensa, penso que o livro não deixa de reflectir isso”, disse.

Embora não tenha sido ouvido para o livro, Fernando Negrão justificou a sua presença pelo tema, a reforma da administração local. “Venho à apresentação de um livro que nos dá conta de uma reforma importante, é esse o significado político, é o valor simbólico da minha presença”, disse o ex-presidente da comissão parlamentar do BES. Mais próximos foram os motivos alegados por Marco António Costa para um fim-de-tarde entre quatro paredes de calor sufocante. “Estar aqui é prova de amizade, é uma prova de solidariedade, os amigos são para as ocasiões”, comentou o vice-presidente e porta-voz do PSD.

Também ao PÚBLICO, Miguel Frasquilho, agora à frente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), afirmou estar “a título pessoal”. Apressado e algo atrasado, o advogado e ex-dirigente "laranja" José Luís Arnaut foi telegráfico: “Vim ao lançamento de um livro de um amigo, de um grande amigo”. Matos Rosa, secretário-geral do PSD, destacou a amizade. “Sou amigo de Miguel Relvas há muitos anos, este é um momento muito importante para ele e tinha que estar”, disse. “Não atribuo significado político ao lançamento deste livro”, concluiu.

A amizade foi o mote. E seria também este o motivo para no hotel das Amoreiras lá estarem Marques Mendes e, entre outros deputados, Guilherme Silva, Matos Correia e António Rodrigues. Gente do PSD, o partido onde Relvas sempre esteve, e cujos serviços foram essenciais para as lideranças de Durão Barroso e de Passos Coelho. Não foi um regresso a casa, esse ocorreu em Fevereiro de 2014 quando foi eleito para o Conselho Nacional do PSD, como o primeiro nome proposto na lista de Passos.

Mas a amizade foi evocada quando, necessariamente, no conforto alcatifado de um hotel, se falava de política. “Este não é um regresso, é um testemunho de quem teve um papel importante, penso que não há um revival político de Relvas, pelo menos é esse o meu entendimento”, insistia, ao PÚBLICO, o deputado Carlos Abreu Amorim. O parlamentar admitiu, sem rebuço, que o tempo das “grandoladas” e da saída de Relvas da Teixeira Gomes, foi difícil. “Foram os dias mais duros da governação, de um plano [o memorando com a troika] que não negociámos, mas aceitámos”, recordou.

Do parceiro da coligação, solidificada já como Portugal à Frente para as legislativas do próximo Outono, as presenças foram contadas. Paulo Portas estava nos Açores, mas enviou representante. “Estou aqui como presidente do grupo parlamentar do CDS-PP, trabalhei com o ministro Relvas e fiz declarações para o livro”, disse ao PÚBLICO Nuno Magalhães. Ainda antes dos discursos, o líder dos deputados centristas abandonava o acto. “Estou a vigiar exames”, justificou. A presença, ainda breve, de Nuno Magalhães respondeu às dúvidas do parlamentar do CDS José Gonçalves Pereira. “Fui convidado por dois motivos: estive na comissão do Ambiente e estou a escrever um livro sobre o poder local, com entrevistas, entre as quais de Miguel Relvas, por isso aqui estou”, explicou Gonçalves Pereira, também vereador na Câmara Municipal de Lisboa. “Não sei quantos dirigentes do CDS vêm, estou aqui a nível pessoal”, dizia no luminoso bar, uma hora antes do acto.

Assim justificadas estas presenças, ficou sem saber o motivo de outras. O antigo ministro e dirigente do PS Jorge Coelho entrou célere no hotel e escusou-se a perguntas. Já o também socialista João Proença assistia de pé à apresentação. “Fui convidado e vim”, disse. Fernando Lima, da Presidência da República, entrou com um sorriso. Luis Todo-Bom chegara cedo e tinha o conforto de uma cadeira. Como Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, e o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. Ao contrário de Fernando Seara e de Alberto da Ponte, o antigo homem forte da RTP, até que Poiares Maduro passou a ocupar-se do dossier. E de Rámon Font, próximo representante do Governo da Catalunha em Lisboa, que estava encostado à parede.

“Quero agradecer aos amigos que aqui estão, de todos os quadrantes políticos”, disse Miguel Relvas, olhando para a assistência, onde descobria, facilmente, rostos das suas amizades. E dirigiu-se a um deles. “O senhor primeiro-ministro nunca vacilou perante as muitas críticas à reforma, o poder local saiu mais fortalecido, a reforma resultou, o Governo manteve o rumo”, disse, dirigindo-se a Pedro Passos Coelho. Já antes, Durão Barroso despertou a plateia do torpor discreto em que parecia vegetar, com elogios a Passos. “Aos portugueses digo para olharem para o se passa na Grécia, se não fosse a determinação do primeiro-ministro que quero saudar…”. Os aplausos foram fortes, de pré-campanha.

“Este livro não representa um regresso à política, encerrei esse ciclo no dia em que decidi abrir uma outra etapa”, garantiu Relvas. O antigo ministro insistiu em desmentir a imagem de político, sempre político. “Este livro não significa um ajuste de contas com ninguém”, disse. Entre outras coisas, porque na assistência estavam amigos que confessaram a amizade. “Os amigos são para as ocasiões”, como recordara Marco António Costa.

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