O medo limita o pensamento!

Júlio Diniz, que é poeta e prosador, escreveu que se o Banco de Portugal falisse o país ficaria pobre durante anos! E que sem Os Lusíadas seria pobre para sempre!

É o valor da cultura, o valor dos princípios culturais, filosóficos a serem colocados no seu lugar da História de Portugal.

Vasco Pulido Valente é académico, historiador, filósofo, escritor, político e muitas coisas mais. Um cidadão que, com o seu saber e militância política, muito tem dado ao país. Nesse percurso, escreveu, há semanas, no PÚBLICO, a propósito do último acórdão do Tribunal Constitucional, versando sobre algumas normas do Orçamento do Estado, onde o princípio da igualdade pairava como regra fundamentadora, escreveu, dizia, que os deputados de 1975 (os que aprovaram a Constituição da República) eram “um bando de loucos furiosos”! Um filósofo, um pensador!

Portugal e os seus líderes políticos estão assim: deixaram de pensar!

País de poetas, historiadores, filósofos é hoje um terreno onde se semeia pelo medo instalado, que limita as ideias, o pensamento e a liberdade, uma secura, um deserto de ideias. O medo do presente e do futuro instalou-se. Os líderes políticos renegaram essa tarefa simples e bem humana que também imaginam um dia tributar: o pensamento!

Camões, Alexandre Herculano, Agostinho da Silva e outros protestam, na imensidão da vida que ora vivem, seja lá onde repousem.

Filho bastardo dessa Europa que foi das luzes, do pensamento, da liberdade e que hoje é gerida e reprimida a partir de Berlim e Bruxelas, onde impera um só “valor”, o dos “mercados”. A Europa não pensa, não é nada no Mundo onde foi farol da liberdade, do pensamento e do progresso. E Portugal é filho ilegítimo dessa Europa, um dos “pigs”!

Esta Europa gerou dezenas de milhões de desempregados, milhões de cidadãos de sobrevivência, outros tantos milhões de povos cujas carências, limites inferiores de vivência instalaram a tristeza, a depressão, o medo da vida.

A Europa deu nisto: tecnocratas sem qualidade governam-na sem políticos de qualidade! Não há política na Europa! Só cifrões, endividamento e défice!

Milhões de gregos, italianos, espanhóis, irlandeses e portugueses vivem (???) abaixo de zero! A França treme!

A Europa insensível posterga a política social, rasga o pacto social europeu e, em troca, não dá nada, nada discute: só austeridade, sempre mais austeridade, sem presente, nem futuro. Está tudo aí à vista!

Portugal é o país que temos: filho bastardo da Europa falida.

Mantém, por imperativo do contexto político e ausência de consensos a Constituição da República Portuguesa em papel da Casa da Moeda, mas vai banindo, lentamente, princípios estruturais que os “loucos” aí registaram: a igualdade, a solidariedade social, o trabalho, a saúde. O direito a vida digna quando o calendário avança.

A pobreza, o desemprego, a ameaça dele, a insegurança, a dívida, instalam o medo. Do presente e do futuro. O país vive no medo. O medo limita o pensamento. Para onde vai a Europa? E Portugal?

Procurador-geral adjunto

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