O medo dos debates

A notícia da morte da influência dos debates televisivos não será um pouco exagerada?

Um dia, um dos jornalistas portugueses mais influentes de sempre disse uma frase que o marcou, negativamente, diga-se, mas que em certa medida traduz a ideia que se tem do imenso poder da televisão. É uma frase datada (meados dos anos 90), proferida num contexto em que uma televisão privada, a SIC, tinha audiências avassaladoras e em que se vivia uma situação política e económica cujas perspectivas traduziam esperança e crescimento. Falamos de Emídio Rangel, fundador da TSF e primeiro director de Informação da SIC, e a frase maldita diz o seguinte: “(…) uma estação que tem 50% se share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados: um bocado de Presidente da República para aqui, um bocado para acoli, outro bocado para acolá, vende tudo! Vende sabonetes”. Pois bem, segundo especialistas em ciência e sociologia política, as coisas hoje já não serão bem assim. Há um conjunto de factores mais determinantes na formação da opinião dos eleitores, porventura uma certa “saturação” do meio em termos de reflexão sobre os conteúdos políticos e daí o desinteresse ou a relativa indiferença com que os partidos - para se ser mais preciso, alguns partidos - encaram a realização dos debates televisivos em época de eleições. 

Mas será realmente assim? Não o é, naturalmente, para as formações políticas mais pequenas, pois são momentos ímpares em termos de audiências para poderem divulgar as suas mensagens. Por isso estão sempre disponíveis e na primeira linha para denunciarem qualquer veleidade discriminatória. Já quanto aos grandes partidos, o aparente fastio dos debates tem um outro motivo: medo. É justamente por reconhecerem a importância destes confrontos que andam a inventar incidentes para fugir a eles. Quando as sondagens revelam empates técnicos qualquer erro pode ser decisivo para o desfecho das legislativas… e ninguém quer arriscar mais que o estritamente necessário.

 

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