O laboratório do Porto está a aquecer

Rui Moreira gere a mais complexa aliança da história do Porto. O fim da história é maior do que a cidade.

Eleito há um ano com 40% dos votos, o novo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, gere aquilo que, visto como um desenho, parece um puzzle impossível de montar ou um quadro de M.C. Escher, o artista holandês famoso pelas suas construções impossíveis.

Na Câmara do Porto, como nos quadros de Escher, as possibilidades são infinitas. Nenhuma grande cidade portuguesa é gerida por um “governo” tão complexo.

De entre os seus vereadores com pelouros executivos, Moreira tem colegas que são ex-PSD, que são actuais PS e actuais CDS e independentes. Como ele. Nesta aliança nunca vista, uma espécie de híbrido excêntrico, até a sua vice-presidente é uma mulher que trabalhou directamente com Rui Rio, o anterior presidente da câmara da cidade, um social-democrata cujo futuro a nível nacional é também uma incógnita.

O que está a acontecer no Porto é um laboratório vivo. Nunca foi experimentado em Portugal a esta escala. Não é apenas novo o facto de a segunda maior cidade do país ter sido ganha por um homem que não vem de nenhum partido. É inovador o sistema de alianças que forjou. Foi eleito com o apoio formal do CDS, mas poucas semanas depois de ganhar incluiu o PS na gestão da autarquia, com um acordo de governação.

Derrotado como nunca no Porto, o PSD tenta agora renascer das cinzas deixadas pelos 21% de votos de Menezes. Vai tentar dividir o que já está à partida dividido. Vai tentar puxar para si o CDS, que é seu parceiro nacional. Não tem um nome forte para derrotar Moreira, cuja frescura ainda perdura. Mas sabe que a frescura não é eterna. Por onde vai Moreira sair nesta complexa escadaria de Escher? Se o seu governo der certo, se melhorar a vida da cidade e encontrar respostas para os problemas, a sua estranha amálgama ideológica incentivará independentes e fragilizará as velhas máquinas partidárias. Se falhar, perdemos todos. Não apenas o Porto.

Sugerir correcção
Comentar