O futuro do governo

O futuro dos génios que nos pastoreiam parece duvidoso.

João Grancho, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, acusado de plágio saiu dignamente do governo por sua própria vontade. Merece os nossos parabéns. Mas, no meio desta salvação, talvez muito merecida, é bom que se lembre os desgraçados que, por não se precaverem com um pequeno escândalo vão ficar onde estavam, sem nada que fazer, até ao último suspiro.

Com o caso Crato e o caso mais sério da dra. Cruz, o primeiro-ministro criou na coligação uma atmosfera de bunker, a que ninguém, nem o próprio Portas, consegue escapar. Estão ali todos para defender “a obra de salvação” da troika e do sr. Vítor Gaspar e nenhuma fraqueza é permitida. Hesitar, murmurar, criticar, são infames formas de trair a Pátria e empanar a glória de Passos Coelho.

Resta que o futuro dos génios que nos pastoreiam parece duvidoso. O primeiro-ministro arranjará com certeza um lugar condigno. Pires de Lima e Paulo Macedo também. Alguns voltarão a um escritório de advogados, que é uma boa maneira de continuar na política à socapa. A maioria ficará depenada e só. E mesmo que Portas se retire para Caxias-Colombey, não pode contar que o ponham em Belém daqui a vinte anos. Felizmente, a solução já foi encontrada: a entrada em massa de suas excelências na televisão e nos jornais. Competência não lhes falta: falam bem, discutem bem e não se atrapalham excessivamente com a verdade. Com uma gravata nova e um fato escuro, ninguém dirá que não se trata de uma nova geração de comentadores. Vale sempre a pena aproveitar as lições dos mais velhos.

Hoje, por exemplo, opinam com entusiasmo na televisão um antigo primeiro-ministro (Sócrates) e um futuro primeiro-ministro (Costa); quatro chefes de partidos políticos na reforma (Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã); praticamente qualquer pessoa que dirigiu as nossas finanças, com a prudência e o brilho que o país conhece (o exótico Braga de Macedo, Bagão Félix e Ferreira Leite – outra vez). Os programas pululam de economistas (alunos, assistentes, professores, para não falar de analfabetos com essa meritória mania). Tudo grita, tudo estica o dedo, tudo repete e se repete com um fanatismo não exactamente “orçamental”. Basta ao nosso querido governo aguentar um ano de sacrifício para se juntar a esta tropa fandanga. Não notaria a menor diferença.

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