O drama quotidiano da presidente Isilda

Isilda Varges Gomes foi eleita para a presidência da Câmara de Portimão nas autárquicas do ano passado e passou os seus primeiros meses “sem fazer outra coisa”. Quer dizer, a passar as intermináveis dívidas da autarquia a pente fino, a receber ou negociar com credores, a falar com bancos, a sensibilizar o Governo para os apertos do município, a inventar soluções para acudir ao mais elementar dos problemas. Compreende-se: Portimão deve 160 milhões de euros e as suas receitas ficam-se apenas pelos 46. Ou seja, a câmara está em falência técnica e se é verdade que Isilda Gomes já sabia disso quando se candidatou, não imaginava “as implicações e os problemas que isso me traz no dia-a-dia”.

Se há caso capaz de simbolizar a apoteose da gestão irrealista e irresponsável, procure-se a história de Portimão. Em 2011 e 2012, por exemplo, a câmara só cobrou cerca de 20% das receitas que tinha previsto receber. Ou seja, inflacionou as expectativas para justificar obras para as quais depois não tinha dinheiro – o que ajuda a explicar a dimensão da dívida. Numa situação insustentável, o anterior executivo viu-se obrigado a recorrer ao PAEL, a linha de resgate do Governo. Mas até hoje o processo continua embrulhado nas formalidades burocráticas e legais do Tribunal de Contas.

Num quadro de penúria, Isilda Gomes vê-se obrigada a “um controlo de gastos apertadíssimo”. A poupança é a palavra de ordem e em casos como o da empresa municipal Urbis houve cortes de salários na ordem dos 550 mil euros. Quando liberta recursos, a pobre tesouraria do município tenta acudir a “situações extremas, como por exemplo de empresas ameaçadas de falência” pelos atrasos nos pagamentos. A reparação do pavimento das vias municipais faz-se na medida do possível. No que não houve recuo, garante Isilda Gomes, foi na área social. “Há situações de autêntico desespero por parte de muitos cidadãos”, justifica a autarca. 

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