O António e o outro António do PS

O PÚBLICO poderia ter optado por evitar o efeito de um enfadonho cansaço.

Tenho recebido de alguns leitores a manifestação de descontentamento pelo modo como o PÚBLICO acompanhou a campanha para as primárias do PS. Alguns chegam a acusar o jornal de uma certa falta de imparcialidade.

É interessante verificar a crítica que determinados analistas teceram sobre a forma como alguns jornalistas ou os media conduziram esta campanha, oferecendo ao grande público estilos de “duelo” na sobrevalorização de “faíscas” que fazem “sangue”, excitam as audiências, mas não conseguem requalificar a natureza específica da “novidade” destas eleições: a escolha de um candidato a primeiro-ministro por parte do Partido Socialista. Ficam a faltar os outros dos outros partidos. É certo que estas análises recaem sobretudo na apreciação aos debates televisivos. Mas não deixa de ser pertinente avaliar se podem ser extensivas aos outros media e, aqui, ao campo que recobre em especial a imprensa escrita.

É traço comum ao desenvolvimento de todas as campanhas políticas e partidárias a “personalização” dos candidatos sobrepondo-se à apresentação dos programas, das propostas e decisões a implementar no caso de vitória da organização partidária em causa. Neste caso, tratando-se de uma eleição de um candidato dentro do mesmo partido, era quase inevitável que este acento na personalização não fosse supremamente potenciado. A evidenciação do personagem deriva da “leitura” de interpretação mais intuitiva do público, dos cidadãos, aliás nesta perspectiva assim “trabalhada” pelo sistema mediático que inclui obviamente os “conselheiros” ou técnicos da comunicação política, no entendimento fácil que é assim que as coisas funcionam. Um sistema que opera na superfície dos entendimentos e das reacções emotivas e não no aprofundamento das questões. E na campanha em referência, os candidatos, mais refractários ou não aos seus “conselheiros” ou aos seus propósitos intencionais, foram os principais potenciadores desta estratégia comunicacional de privilegiar o acessório, o superficial, ao conteúdo de uma mensagem alternativa e à evidência da real capacidade executiva.

Não me parece que o PÚBLICO tenha infringido os parâmetros gerais de uma conduta de acompanhamento equilibrado desta campanha. Como é óbvio, a cobertura noticiosa de uma campanha tão longa é fragmentária. Um jornal lê-se no dia a dia. Em cada número. Cada notícia é um fragmento de um todo. E regra geral, a absorção do conteúdo lido por parte dos leitores é ainda mais fragmentado do que o próprio tratamento. A delonga desta campanha contribuiu para um enfastiamento do próprio processo, porventura com efeitos perniciosos para os próprios candidatos que só os resultados do dia da eleição poderão indicar qual o mais prejudicado. E possivelmente, o mais grave e pernicioso, para a desvalorização por parte dos cidadãos de um processo novo no modo de “categorizar” os candidatos. O PÚBLICO, como lhe competia, não se inibiu de criticar os debates ou as posições públicas de cada candidato. Acompanhou a agenda de ambos os candidatos, deu espaço a artigos de opinião de proponentes de António José Seguro ou de António Costa, com relativa equiparação lado a lado. Quando muito, em minha opinião, em doses que eu acho excessivas. É verdade que estas eleições primárias são importantes, não só pela inovação que marcam no sistema eleitoral português, mas pelos objectivos que têm em vista. Contudo, o PÚBLICO poderia ter optado por evitar o efeito de um enfadonho cansaço. E exactamente para, como “poder mediático” tantas vezes atribuído aos media, corrigir ou até “castigar” a lógica de um processo eleitoral que acaba por ser dissuasor.

Obviamente, não vou incorporar-me no coro daqueles que têm tecido críticas a um procedimento de uma incongruente “vitimização” por parte de António José Seguro ou de uma “irrevogável predestinação” de António Costa, aliás ambas as estratégias de perigosos efeitos duais, ou seja a favor ou contra. Mas como cidadão lamento que não contava com tanto “truque” num processo que preferiria mais limpo. Fico a desejar que as eleições primárias, não obedecendo a tantas segundas intenções, e que provavelmente virão a ser seguidas pelos outros partidos políticos na busca da revitalização de um sistema eleitoral tão desfigurado, concorram para despertar maior interesse na cidadania democrática.

 

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

INTERROGAÇÕES, QUEIXAS E COMENTÁRIOS

Nestas duas semanas de interregno caíram no meu e-mail várias cartas dos leitores. Sem poder dar espaço a todas, opto por citar alguns dos seus temas, interrogações ou queixas com algumas questões bem pertinentes.

Leitor: - Já enviei tantas cartas à Directora. Nunca tive o privilégio de ser seleccionado. Será por não saber escrever? Será pelos conteúdos? Estarei “vetado” pela direcção?

Provedor: - Desfaça as suas interrogações insistindo em temas pertinentes.

Leitor: - Tenho pressentido nas páginas do PÚBLICO uma “deficiente imparcialidade” nas notícias sobre a campanha de António Seguro e António Costa para as primárias no PS.

Provedor: - Provavelmente no modo como tem decorrido esta “campanha sem fim” não tem sido fácil encontrar um equilíbrio.

Leitor: - “Não percebo o porquê deste tratamento diferenciado por parte do PÚBLICO: A notícia sobre a convocatória de Durão Barroso para ser ouvido na comissão parlamentar a propósito das contrapartidas dos submarinos é destacada na 1.ª página, a mesma convocatória feita a António Guterres vem “despercebidamente” nas páginas interiores”.

Provedor: - Sinceramente, não interroguei a Direcção por tais critérios. Não estou sempre a indagar por estes critérios correntes. Podem apenas ser por arrumação de página. Não interpreto discriminação. Durão Barroso tem a proeminência de ex-presidente da Comissão Europeia. Guterres anda por esse Mundo a tratar de como valer aos milhares e milhares de refugiados. Contudo, não fujo a deixar registado o reparo do leitor.

Leitor: - Causa-me certa perplexidade por que razão o Senhor Presidente da República só se pronuncia sobre assuntos tão sérios para o país, como sejam o caso BES/GES, ou a reforma dos tribunais, à saída ou entrada para eventos como inaugurações de fábricas ou outros, ou então através do seu facebook, twiter, ou site. Mas muito mais me intriga e perturba como os jornalistas e a comunicação social perseveram em alimentar este procedimento.

Provedor: - O meu comentário pode ser o seu.

Leitor: - Estava à espera de um comentário seu sobre a inserção em primeira página das imagens das decapitações dos jornalistas perpetradas e tão propagandeadas pelo dito Estado Islâmico.

Provedor: - Quanto às decapitações referi-me em artigo publicado no PÚBLICO a 24.08.2014. Quanto à publicação das imagens, sinceramente, não me sinto chocado. Não me parecem que sirvam de aliciamento a potenciais radicais. Repetidas, até vão causar o repúdio da opinião pública. Por outro lado, há tantas outras imagens que me perturbam e causam revolta, tais como aquelas dos africanos sepultados nos mares perto de Malta ou do Mediterrâneo. Provavelmente, imagens como estas possam vir a remexer com a insensibilidade da grande maioria das pessoas ou dos poderosos do Mundo.

Leitor: - Tenho acompanhado com interesse os textos que diariamente têm saído sobre a Grande Guerra, que me parecem geralmente de qualidade e adequados a um público de leitores não especializados. (…) Contudo tenho verificado uma frequente ocorrência de erros no teor das legendas das fotografias que ilustram os artigos, o que merece um outro cuidado.

Provedor: - Dei conta deste reparo à Redacção.

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