O ano das manifestações pacíficas, dos independentes e da crise da coligação

Balanço de 2013 na política nacional.

A boa notícia Cidadania e independentes


A sociedade civil está de boa saúde e o povo continua a ser sereno. No ano do "enorme aumento de impostos", os cidadãos encontraram múltiplas formas pacíficas de protestar, tanto nas ruas como nas urnas. As eleições autárquicas demonstraram que um bom candidato independente, rodeado das forças certas, consegue ultrapassar os partidos e vencer.

Se a partidocracia está em crise, a democracia avança. Nas ruas, em espaços fechados, nas galerias da Assembleia da República ou em alguns ministérios, muitas e diferenciadas foram as formas como os sindicatos e os movimentos sociais fizeram ouvir os seus protestos. Mas fossem as "grandoladas" cantadas aos ministros, a manifestação da CGTP na ponte ou a subida dos polícias pelas escadas do Parlamento, as acções foram sempre pacíficas.

A má notícia O mês em que o país tremeu


Julho trouxe consigo a demissão do ministro de Estado e das Finanças Vítor Gaspar, o rosto do cumprimento do programa de assistência financeira, e logo a seguir a "irrevogável" decisão de Paulo Portas, então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, de abandonar o Governo. A crise política aberta com o rompimento iminente da coligação do Governo deixou o país atónito e os mercados num ataque de nervos que ainda tarda a sossegar.

O Presidente pediu um acordo de salvação nacional que não veio. Em seu lugar veio a remodelação do governo tão desejada pelo líder do CDS, que ficou com as pastas económicas mais importantes e direito de vigia às Finanças. Foi a forma encontrada para superar a fragilidade visível da coligação. Mas só os enormes desafios que se apresentam em 2014 irão revelar se a coesão e a coligação conseguem manter-se.

A figura Rui Moreira


Foi a supresa da noite eleitoral contra todas as sondagens e premonições de altas figuras nacionais. Rui Moreira sucedeu a Rui Rio na presidência da Câmara do Porto e prometeu não desapontar os portuenses. A sua eleição foi recebida com uma enorme expectativa e o novo presidente deu um sinal de abertura, ao subscrever um acordo pós-eleitoral com o socialista Manuel Pizarro, garantindo, assim, um exercício de mandato com maioria absoluta.

Muito se escreveu sobre o acordo de governação para o Porto, que contemplou pelouros a dois (Manuel Pizarro e Manuel Correia Fernandes) dos três vereadores socialistas. Carla Miranda - a primeira mulher na lista de Pizarro - assumiu o lugar na vereação, mas não tem funções executivas.

A distrital do PS/Porto levantou muitas reservas ao acordo válido por quatro anos e o seu presidente, José Luís Carneiro, nunca escondeu o seu descontentamento. Mas isso em nada afectou a imagem de Rui Moreria e três meses após as eleições, o presidente disfruta ainda de um estado de graça que, provavelmente, ainda se vai manter ainda por mais alguns meses. Mas haverá quem se empenhe em colocar cascas de banana no caminho de Moreira e de Pizarro, criando artificialmente conflitos entre os dois, desgastando a boa relação que existe entre ambos.

Na equipa de Rui Moreira (e fora dela) há quem já esteja a pensar nas autárquicas 2017 e tema que o independente que agora lidera a Câmara do Porto possa a vir a ser candidato apoiado pelo PS.
 
A seguir em 2014

Janeiro/Fevereiro – CDS e PSD reunem os seus congressos electivos. E se deles não sairão novos líderes, as moções e discursos balizarão o terreno político que cada um quer trilhar no futuro. Ao mesmo tempo, no Governo, estarão juntos a negociar o pós-troika entre si e com os credores. 

Março – Na Primavera deverá ser conhecida a decisão do Tribunal Constitucional sobre as normas do Orçamento do Estado que venham a constar dos pedidos de fiscalização sucessiva, feitos pelos partidos e/ou pelo Presidente.

25 de Abril – O 40º aniversário da Revolução dos Cravos será um ponto alto dos discursos dos agentes políticos. Mas também uma oportunidade de aferir a cidadania e a paz social. A forma como a sociedade civil se manifestar será também ouvida nas negociações internacionais.

17 de Maio – Termina o programa de assistência financeira a Portugal. O que se seguirá tanto pode ser um programa cautelar, um pleno regresso aos mercados ou um segundo resgate. A cada cenário poderá corresponder uma diferente situação política. A hipótese de crise política não pode ser afastada se a solução for a última.

25 de Maio – As eleições europeias serão o termómetro político para aferir a consistência das lideranças dos partido, a um ano de legislativas. Depois de ter ganho as autárquicas, o PS precisa de outra vitória para ficar incontestavél. Para o BE, uma segunda derrota nas urnas poderá ser a sentença de morte da liderança bicéfala.

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