No Barreiro brindou-se com Moscatel ao “grande resultado da CDU no domingo”

Último dia da campanha leva comunistas e ecologistas ao Chiado, Loures e Seixal.

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Daniel Rocha

O moscatel de Setúbal e as miniaturas de pastel de nata, bolo de feijão e de coco não podiam faltar na arruada do Barreiro. Margarida Feio, antiga presidente da Junta de Freguesia local, e o marido estão sempre debaixo das arcadas de um prédio na avenida Alfredo da Silva, quase junto ao mercado, onde vendem o Avante!. Ela de caixa de bolos na mão, ele de garrafa e pequenos copos de papel. “CDU a subir, gente boa a subir”, diz Margarida.

Jerónimo de Sousa e Francisco Lopes não se fazem rogados. O primeiro candidato pelo círculo de Setúbal repete o moscatel para propor um brinde “a um grande resultado da CDU no domingo”.

Margarida Feio foi a primeira mulher presidente da freguesia depois do 25 de Abril, entre 1979 e 1989. Tem saudade da vida política activa, e mantém a chama acesa como militante fervorosa. Tanto que já levou as três netas, de 14, 18 e 20 anos para a juventude comunista – “já estão no bom caminho”, diz orgulhosa. O sangue vermelho corre mesmo nas veias da família. O neto mais novo, de poucos meses, chama-se Manuel Tiago em honra de Álvaro Cunhal.

Uma arruada da CDU no Barreiro, mesmo que de apenas meia hora enche as medidas de qualquer comunista. Há muita gente à espera de Jerónimo de Sousa em frente à câmara municipal e, ironia, à sede de campanha da lista socialista pelo distrito de Setúbal que tem uma enorme foto de António Costa na montra. O líder da CDU ignora os socialistas, do lado direito da rua, e prefere chegar-se à esquerda, subindo as escadas da câmara para cumprimentar as mulheres sorridentes que se acumulam à porta. Será assim no centro comercial poucos metros à frente, será assim nos 500 metros até ao largo de mercado, com um sugestivo nome de Parque Catarina Eufémia.

Pelo caminho, militantes, entre as quais as deputadas Heloísa Apolónia e Paula Santos, distribuem cravos vermelhos a quem passa. E vêem-se muitos nas mãos de quem engrossa a marcha que grita “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”.

A meio da avenida, um contributo para câmaras e microfones. João Soares, vereador socialista na câmara do Barreiro entre 2001 e 2009, vem ao encontro de Jerónimo de Sousa para lhe dizer que vai votar na CDU. A autarquia é CDU, com maioria absoluta.

O analista de sistemas de 59 anos justifica que a CDU e outras bancadas “têm defendido os portugueses, fazem um trabalho sério, honesto e com responsabilidade”. E está a castigar o PS? O partido como um todo não, mas António Costa sim. “Os indecisos olham para o PS com algumas suspeitas porque quando se atraiçoam pessoas do mesmo partido por um lugar de poder pensa-se o que não farão novamente ao partido e até mesmo ao país por um interesse pessoal”, afirma João Soares lembrando as “dificuldades” por que Seguro passou antes de ser posto de lado por Costa.

Pouco depois, Jerónimo dizia-se confiante que mais pessoas pensam como este socialista arrependido. Questionado pelos jornalistas sobre uma eventual vitória da coligação Portugal à Frente mas sem maioria absoluta, o secretário-geral do PCP disse que nesse cenário, a direita não teria condições para governar.

“Eles estão lá no Governo porque tiveram mais de 50% dos votos. Agora, a perspectiva, dessas sondagens e indícios, é a de que vão passar de mais de 50% para 30 ou 35%, não sei, agora não interessa muito. Não têm condições para governar porque o povo português lhes retirou a maioria absoluta”, afirmou Jerónimo de Sousa que tem mudado o discurso sobre as perspectivas eleitorais e agora já admite, implicitamente, que a direita poderá ganhar de novo, embora apenas com maioria relativa.

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