Nem moeda única, nem saída única

Conferência sobre a saída do euro juntou personalidades da esquerda à direita. Que se estavam de acordo em relação aos malefícios do euro, não concordavam todos sobre como resolver o problema.

Foi um variado leque de personalidades e forças políticas que esta quarta-feira acorreu à Faculdade de Direito de Lisboa para participar na Conferência “A Alternativa é a saída do Euro?”. O resultado do debate de cerca de duas horas foi a percepção de que os eurocépticos não são adeptos do discurso único, neste caso a defesa do abandono por Portugal da moeda única europeia.

A assistência da conferência alargou-se da extrema-esquerda à extrema-direita. Mais à frente no auditório estavam figuras como o histórico dirigente do MRPP, Arnaldo Matos, acompanhado pelo dirigente desse partido, Carlos Paisana, enquanto que mais para trás estava José Pinto Coelho, presidente do Partido Nacional Renovador (PNR). Que partilhavam o espaço com o antigo procurador-geral da República, Cunha Rodrigues, o ex-ministro da Defesa Júlio Castro Caldas, e o ex-ministro das Finanças e ex-presidente do Conselho Económico e Social José Silva Lopes.

Foi precisamente este economista que se mostrou mais reticente às propostas da estrela da conferência, o economista alemão fundador do partido Alternativa para a Alemanha que defende o abandono do euro.

Bernd Lucke, atacou o euro de todas as formas possíveis. Apresentou quadros para sustentar que a introdução do euro tinha sido uma decisão económica uma vez que os países da zona euro tinham perdido competitividade e capacidade de exportação na década de 2003 a 2013. Mas também alertou para as ameaças políticas.

Com a crise do euro, alertou, “a única coisa que fizemos foi criar instituições para dar conta do que achávamos que era um problema”. Falava dos “poderes executivos” do Banco Central Europeu, do excessivo “volume” do Mecanismo de Estabilidade Europeu e da União Bancária.

“Todas grandes instituições, com muito poder  e criadas sem qualquer controle parlamentar”, alertou. “Um novo super-Estado completamente diferente da tradição democrática europeia que foi um sucesso nos últimos quarenta anos”. Por isso considerava tão importante que nas próximas eleições europeias se debatesse a possibilidade dos Estados-membros poderem escolher sair do euro.

Mas apesar das palmas no final da sua intervenção, a verdade é que o debate revelou que nem toda a assistência estava convencida. Silva Lopes, por exemplo, pediu a palavra para dizer que o alemão não respondera à pergunta mais importante. Que era perceber o que fazer a seguir à saída, lembrando os efeitos nefastos de uma decisão desse tipo.

Outro participante sugeriu uma alternativa: a de haver uma “moeda paralela”. Uma posição que Castro Caldas, já à saída do debate, assumiu como sua ao PÚBLICO. “Sou um seguidor dos economistas portugueses que defendem que a única saída é a introdução de duas moedas a funcionar ao mesmo tempo. Não é nada de novo na nossa história”, disse o ex-ministro que considerou que caso as ideias de Lucke fossem adoptadas, tal significaria o “fim da liberdade de circulação de capitais” na Europa.

Ainda assim, o organizador João Ferreira do Amaral saiu satisfeito do debate. Da mesma forma que reconheceu ver “com bons olhos” o surgimento de um movimento mais crítico em relação ao euro, disposto a ir a votos. “

Quantos mais vierem, melhor”, disse ao PÚBLICO, antes de acrescentar não fazer parte desse movimento.

Já Carlos Paisana, do PCPT-MRRP, quando questionado se via com bons olhos o surgimento de uma possível frente anti euro disponível a coligar-se para as europeias, disse apenas que daqui “a uns dias” o seu partido apresentaria a sua própria candidatura.
 
 
 
 

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