“Não há sondagens que salvem PSD e CDS da derrota”

Jerónimo de Sousa procurou afastar o fantasma do voto útil, dando por garantida a derrota do actual Governo. “Não venha agora o PS a pôr-se em bicos de pés a agitar o papão…”

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Miguel Manso
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Neste “momento decisivo”, em que “a situação é grave”, Jerónimo de Sousa usou o comício de encerramento da 39ª Festa do Avante! para negar a ideia, presente nas sondagens, de que a coligação PSD-CDS está a ganhar terreno ao PS. “Os portugueses não esquecem o pesadelo que foi a sua governação”, garantiu o secretário-geral do PCP. “Nada os salvará da derrota porque governaram contra os trabalhadores, a favor dos ricos”, acusou, num tom duro, já depois de ter subido o tom lamentando a “Pátria que entregaram sem vergonha a mando dos senhores da banca”.

As críticas ao actual Governo, que foram muitas, serviram um outro propósito neste discurso: recusar a pressão do voto útil que as sondagens podem introduzir, à esquerda. “Não há sondagens que salvem PSD e CDS da derrota”, prevê Jerónimo. As mesmas sondagens mostram que o PCP pode vir a conseguir o seu melhor resultado em legislativas desde que, em 1987, obteve 12% dos votos e 31 deputados. Mas, lá está, o problema é que isso deu-se na primeira maioria absoluta de Cavaco Silva…

Por isso, Jerónimo enfatiza a sua previsão de um mau resultado da direita. E não esquece o PS, apesar de, com ironia, parecer fazê-lo: “O PSD… perdão! O PS. Às vezes a gente confunde-se no nome….” A confusão com a sigla pretendeu sublinhar a proximidade que Jerónimo vê nos partidos que compõem “o arco da política de direita”. Ou seja, mesmo que, como parece prever o líder do PCP, o PS acabe por ganhar as eleições, nada garante aos comunistas que algo vá mudar. “Eles podem mudar de maestro, podem até mudar de orquestra, mas querem manter a mesma pauta.”

A ideia motivou uma longa parte do discurso, ritmado por uma frase repetida: “A eles o devemos, ao PSD, ao PS e ao CDS.”A frase serviu de bordão para todo o rol de críticas que o secretário-geral do PCP elencou por mais de cinco minutos: das desigualdades sociais às privatizações, da “promiscuidade” à emigração. “Foram eles no seu conjunto, PSD, PS e CDS, que entregaram este país nas mãos do estrangeiro.”

Por isso, Jerónimo enumerou algumas das medidas que pretende levar para a próxima Assembleia da República que resultará da escolha dos eleitores no dia 4 de Outubro. Da “desvinculação do Tratado Orçamental”, ao “estudo” sobre as condições de saída do euro – da “submissão do euro”, nas palavras de Jerónimo. Prometendo um aumento do salário mínimo para 600 euros “em 2016”, o líder do PCP enunciou o seu lema económico: “Produzir mais para dever menos.”

Esta foi a fase final de um discurso que, tradicionalmente, se divide em quarto partes distintas. Jerónimo começou por focar o local onde se encontra, a Quinta da Atalaia, no Seixal, onde fica o palco 25 de Abril, montado num anfiteatro natural num dos extremos do terreno que o PCP agora quer ampliar, tendo já recolhido mais de metade da verba necessária para adquirir uma quinta contígua já no próximo ano.

Do Seixal, o discurso abre o foco para o Mundo. Ou não fosse esta a “Festa da solidariedade e do internacionalismo”. E aqui há de tudo, da história à pura ideologia – o PCP vê na situação actual sinais de uma “crise estrutural do capitalismo”.

A primeira vaia dos milhares de militantes e simpatizantes foi – sem surpresa – para os Estados Unidos da América, e o papel que o PCP lhes atribui na situação da Ucrânia. E não só… As “imagens chocantes” da crise dos refugiados radicam também, para o PCP, na política externa americana e dos seus aliados: “As causas estão nas políticas dos EUA, da NATO e da UE na desestabilização, na pilhagem de recursos nesses países [Síria, Iraque e Líbia]”, acusou Jerónimo.

Elogiando, como é hábito, Cuba e a Palestina, Jerónimo destacou ainda os “ventos de confiança” que soprama da América Latina. Depois de abrir o foco, o discurso regressa ao continente europeu. Com menos optimismo… “A UE da solidariedade e da coesão era e é uma gigantesca mentira:”

E, depois disto, Portugal, onde o PCP pretende construir uma “sociedade nova, do socialismo e do comunismo”, mas onde encontra uma “grave situação de declínio e retrocesso”. E onde o PCP aceitará as “responsabilidades que o povo lhe queira atribuir no Governo do país”. 

 

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