Músicas das bandas de reunião nacionalista têm letras com referências nazis

Foto
PÚBLICO

Pelo menos duas das bandas convidadas a actuar no concerto luso-ibérico de sábado, num evento organizado pela Juventude Nacionalista, têm músicas com referências a "ariana nação" e ao combate pelo "nacional-socialismo".

O concerto promovido pela Juventude Nacionalista, célula do Partido Nacional Renovador, anuncia para sábado a actuação de três bandas, duas espanholas (Asedio e Brigada Totenkopf) e uma portuguesa (Bullet 38, a antiga Ódio).

No caso da Brigada Totenkopf (que se refere a uma das divisões militares promovidas pelas tropas de Hitler), uma das letras das músicas disponíveis on-line refere-se "a um povo que se quer unir para combater o sionismo, um povo que se quer juntar ao socialismo nacional", apelando à luta pela Europa, à reunião da "tua cultura e da tua raça". Numa outra música, disponível num vídeo do You Tube, a Brigada Totenkopf diz: "Somos como uma família frente ao sistema e à escória antifa...óóó." Todo o vídeo contém cenas de violência, de manifestações de nacionalistas, algumas imagens de Hitler e da saudação nazi.

O mesmo padrão segue a banda portuguesa no seu vídeo disponível no You Tube, intitulado Ns, o nosso ideal: repetidas imagens de violência, algumas do ditador alemão e do símbolo nazi.

Na letra que se refere ao nacional-socialismo (embora sem nunca o explicitar), os Bullet 38 dizem ser "as novas SS a marchar, a nova elite contra esta podridão, a verdadeira estirpe desta ariana nação". Para o constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos, as letras de músicas das bandas têm que ser ponderadas com outro valor fundamental - o da liberdade de expressão e da criação artística. "Se não houver um apelo à violência razoavelmente explícito ou uma promoção de intolerância contra minorias, não vejo que a pura expressão de valores antidemocráticos possa constituir delito que seja desconforme aos valores constitucionais", diz. O mesmo já não se passa, por exemplo, com o vídeo que mostra um instrutor do Exército alemão a ordenar a um recruta que imagine que está a disparar contra negros: "Aí já há um incitamento." O professor de Direito não deixa de lamentar a existência destes eventos e "o à-vontade desta expressão deste tipo de sentimentos". Sem querer dar visibilidade ao acontecimento de sábado, Pedro Bacelar de Vasconcelos defende que a conferência/concerto deve ser acompanhada pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas.

As imagens dos vídeos musicais das duas bandas parecem contrastar com os apelos à não-violência feitos pelos nacionalistas portugueses. "Não serão permitidas armas, drogas ou qualquer tipo de comportamento desviantes", lê-se no site do Fórum Nacional. Um dos últimos concertos em Valladolid, Norte de Espanha, em que participaram duas das bandas convidadas para sábado (Brigada Totenkopf e Asedio), não deu o exemplo e acabou em violência entre os elementos do público que assistia ao espectáculo.

O local onde se realizará o concerto é desconhecido por razões de segurança. A única indicação é o ponto de encontro: à porta da antiga Feira Popular de Lisboa. A partir daí, haverá transporte para o local escolhido. Antes do espectáculo, realiza-se uma conferência nacionalista com representantes de organizações juvenis de extrema-direita. A reunião é dedicada às Formas de activismo na Europa, com intervenções de Rita Vaz, da Juventude Nacionalista, e de José Pinto Coelho, do Partido Nacional Renovador.

Sugerir correcção
Comentar