Moçambique e Marcelo

O que mais gosto em Marcelo nele é a subversão que faz de ele próprio.

Marcelo Rebelo de Sousa está a aproveitar a Presidência da República para o divertimento dele e dos outros. É tanto uma celebração do dever como da liberdade.

Em Moçambique - onde aprendi lições elegantes de dignidade - o presidente Marcelo fez o que nunca nenhum presidente português tinha conseguido fazer, não obstante os muitos esforços, sem dúvida sinceros: representou os portugueses. E bem.

Marcelo é o primeiro presidente moderno que é mais conhecido pelo primeiro nome do que pelo apelido. Não, não é o Otelo da direita. Pode ser que a terminação "elo", na grande cadeia semântica da língua portuguesa, seja mesmo a mais forte.

O "Saraiva de Carvalho" de Otelo - nascido em Moçambique em 1939 - é um apelido não tanto esquecido como dispensado.

O Presidente Marcelo é muito inteligente e suficientemente culto para disfarçar o tempo imenso que escolheu gastar com as frívolas mas, se calhar, deliciosas bisbilhotices das politiquices.

O que mais gosto nele é a subversão que faz de ele próprio: é como se quisesse ser chamado à pedra, para mais bem se poder defender.

Em Moçambique disse, imortalmente: "As pessoas são muito calorosas. Os portugueses também, mas às vezes são uns chatos. E há outros muito, muito chatos".

É lindo. Só que metade é mentira: nem os moçambicanos nem os portugueses são calorosos. Mas é verdade que só os portugueses conseguem ser chatos ou muito chatos. Os moçambicanos podem ser distantes. Mas nunca são chatos.

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