Militares não querem ser a “cereja no bolo” do Parlamento, diz Vasco Lourenço

Cerimónia alternativa dos militares no largo do Carmo terá uma chaimite, uma intervenção de Vasco Lourenço “mais dura” do que a que faria no Parlamento e a presença já anunciada de Mário Soares e Manuel Alegre.

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Cerimónia dos militares no largo do Carmo só terá a intervenção de Vasco Lourenço. Enric Vives-Rubio

É escusado insistir no assunto. Os militares não irão ao Parlamento no 25 de Abril porque não querem ser a “cereja em cima do bolo”, e a cerimónia alternativa que estão a ultimar para o largo do Carmo terá apenas a intervenção do presidente da Associação 25 de Abril. “Os organizadores ainda têm capacidade de definir quem é que fala”, argumenta Vasco Lourenço.

“Vamos fazer uma homenagem aos militares de Abril na pessoa do Fernando Salgueiro Maia. Há uma placa no chão no largo do Carmo e é aí que faremos uma homenagem”, disse aos jornalistas o coronel Vasco Lourenço, durante a conferência "A Revolução de Abril" que decorre até quarta-feira no Teatro nacional D. Maria II. A “homenagem simples” contará com a presença do ex-Presidente Mário Soares e do histórico socialista Manuel Alegre, já anunciada pelos próprios, e terá apenas uma intervenção: a de Vasco Lourenço, em nome dos militares de Abril.

Não será exactamente a mesma que faria no Parlamento já que “deixa de haver necessidade de alguma contenção protocolar”. “Provavelmente irei ser um pouco mais duro do que seria na Assembleia da República, mas vou fazer uma intervenção dizendo aquilo que pensamos sobre a actual situação”, promete o antigo capitão de Abril.

Vasco Lourenço diz que os militares “não querem lançar nenhum movimento”. “Mas como cidadãos de corpo inteiro que somos e que não abdicamos de ser, sem querer ser donos ou tutores seja do que for, nós defendemos aquilo em que acreditamos. E acreditamos que neste momento, só à volta dos valores de Abril é que é possível  ultrapassar e reverter esta crise em que estamos envolvidos.”

A mágoa em relação à comemoração no Parlamento está para durar. Vasco Lourenço lembra a “insistência” de Assunção Esteves: “Que nós eramos absolutamente insubstituíveis, que era inimaginável que nós não estivéssemos, eramos imprescindíveis nos 40 anos”. Para depois justificar que isso os levou a dizer que a única maneira de irem ao Parlamento era dizendo o que pensam.

“Ir lá servir de cereja em cima do bolo, nós não vamos. Para ir lá fazer um parêntesis no país para ouvir meia dúzia de aplausos a tecer loas aos militares de Abril, isso não nos enche o ego. Queríamos dizer aquilo que pensamos. Não fomos nós que tomámos a iniciativa de dizer ‘nós queremos lá ir’. Só dissemos ‘só lá vamos se nos deixarem falar’. Não aceitaram isso, consideram que não há condições, lamento.”

A cerimónia no largo do Carmo “é aberta” mas isso não significa que todos possam falar. Não estão previstas mais intervenções, apenas a de Vasco Lourenço, aprovada pela assembleia geral e pela direcção da Associação que decidiram que deveria ser o coronel a falar pelos militares, descreve. “Não é uma cerimónia aberta nesse sentido. Os organizadores ainda têm capacidade de definir quem é que fala.”

Não foram feitos convites, apenas “um apelo à população que compareça”. Por isso as presenças de Soares e de Alegre são bem-vindas. No largo do Carmo estará uma chaimite que pertence à Associação 25 de Abril, mas Vasco Lourenço não vai discursar em cima do veículo. “Não quero que me acusem de querer o protagonismo do Salgueiro Maia”, avisa.

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