Match Point, diz Barroso: Portugal não caiu do lado da Grécia e deve seguir reformas

O país “tem todas as razões para se sentir orgulhoso pelo esforço feito”, defendeu Durão Barroso.

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A aula do ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, na Universidade de Verão do PSD até parecia que não iria ter qualquer referência, ao contrário de outras, às próximas eleições legislativas. Mas acabou por ter. Nesta quarta-feira, já na parte das questões dos alunos, um jovem perguntou ao antigo primeiro-ministro se uma mudança de estratégia nas políticas seguidas até agora em Portugal poderia implicar um novo programa de ajuda. Apesar de não querer “entrar na política partidária”, Durão Barroso acabou por defender que Portugal deve continuar as reformas e a política de “responsabilidade orçamental”. E deixou um aviso: “Olhem para a Grécia, olhem para a tragédia que aconteceu na Grécia.”

Tal como no filme de Woody Allen, Match Point, em que se explora a ideia de destino ou o momento em que a bola de ténis pode cair de um lado ou de outro, também Portugal podia ter caído do lado da Irlanda ou do lado da Grécia, ilustrou Durão Barroso. Mas, defendeu, o Governo português conseguiu que tal não acontecesse.

Por isso, o ex-presidente da Comissão Europeia afirmou que, “independentemente de quem ganhar as eleições”, Portugal merece “respeito pelo que foi feito” nos últimos anos. “Seja quem for que ganhe as eleições é importante manter a política de responsabilidade orçamental” e de reformas, defendeu. Até para não colocar em causa os “ganhos da credibilidade” conquistada.

E elogiou a resposta que foi dada à crise, lembrando que houve “analistas que diziam que Portugal teria um segundo resgaste ou uma saída não limpa” e que, apesar de “todos os pessimismos”, o país conseguiu alcançar os objectivos.

Durão Barroso lembrou que “o objectivo não era de um dia para o outro Portugal voltar a crescer extraordinariamente, porque isso infelizmente foi posto em causa por políticas anteriores acumuladas, que levaram a uma dívida muito elevada”. Mas agora o país, "no seu conjunto, tem todas as razões para se sentir orgulhoso pelo esforço feito”.

E, se para bom entendedor meia palavra não bastasse, ainda avisou: “Olhem para a Grécia, olhem para a tragédia que aconteceu na Grécia, os gregos estão a pagar um preço elevado pelos erros políticos.” Até porque, apesar de Portugal estar no “caminho ascendente”, não está ainda “completamente imune a uma alteração das circunstâncias”, alertou.

Antes, na conferência, Barroso tinha contado que o pai é contabilista e dito que não entende as pessoas que criticam a “visão contabilistíca” da realidade: “Como se fosse mau ter as contas certas.” Aliás, disse, um país que tem uma visão negativa acerca da contabilidade “devia tratar-se”.

Europa não está em crise
Durão Barroso falava numa conferência intitulada O que se passa com a Europa?. Para responder à pergunta, o ex-presidente da Comissão Europeia tentou desconstruir algumas ideias que, defende, não correspondem totalmente à realidade. “A pergunta traz já implícita uma sugestão: a Europa não está bem, está em crise.” Mas “será verdade, será justificado todo o pessimismo que hoje existe em volta da Europa? Será que a Europa, a União Europeia, está em declínio?”. Será que esse negativismo, pessimismo, tem base nos factos?, questionou.

Durão Barroso disse considerar a expressão crise do euro “curiosa”, porque “sugere que o euro está na origem da crise”. Ora, notou, “não foi o euro que provocou a crise”, aliás, “a crise nem sequer teve o seu centro nos países do euro”. Para Durão Barroso, o que existiu foi “a crise financeira e da dívida soberana” e não do euro. E também “não foi a troika que criou a crise, foi a crise que criou a troika”.

Apesar de admitir que a zona euro “não estava preparada” para o que aconteceu, afirmou que hoje em dia “o euro e a zona euro aparecem como zonas de estabilidade, comparadas com o que acontece noutras partes do mundo”.

Portas abertas, não escancaradas
Sobre o tema das migrações e dos refugiados, Durão Barroso sublinhou que quem não está a conseguir dar resposta são “os governos europeus”, porque não se entendem acerca das propostas da Comissão Europeia para resolver o que é uma “emergência”. Por isso, pediu para não se pôr “a culpa na Europa em geral”.

O ex-presidente da Comissão Europeia defende uma Europa de “portas abertas, mas não escancaradas”, considerando que não se deve dar força a ideias xenófobas. Aliás, sobre as “afirmações racistas e xenófobas” feitas por Donald Trump, no âmbito das próximas presidenciais nos Estados Unidos, Durão Barroso disse que provam que não é só na Europa que há “políticos palhaços”. Um exemplo, acrescentou, é Beppe Grillo.

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