Mário Soares diz que Portas é um "tumor" que "deve ser extirpado"

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Para o ex-Presidente o veto de Sampaio foi uma "boa coisa" André Kosters/Lusa

Paulo Portas, líder do CDS e ministro de Estado e da Defesa, é um "tumor" que está a "contaminar" o Governo e que deve ser "extirpado", ou seja demitido, o quanto antes, defendeu, ontem, em entrevista à Antena 1, o ex-Presidente da República Mário Soares. "Devem extrair o tumor e isso é demitir o ministro", disse Soares. O "devem" refere-se ao Presidente da República e ao primeiro-ministro.

Neste forte ataque ao ministro de Estado e da Defesa, que pode ser visto como uma resposta à forma como Portas tratou Maria Barroso, mulher de Mário Soares, no processo eleitoral da Cruz Vermelha, o ex-Presidente coloca o problema ao nível ético. Lembra que "em oito meses, dois chefes de Estado-Maior bateram com a porta", sendo ambos "pessoas de qualidade moral e profissional militar" e considera que a forma como o fizeram mostra a falta de "confiança ética" no ministro. Os dois chefes de Estado Maior que se demitiram foram Alvarenga Sousa Santos, chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, que se demitiu em Outubro do ano passado, e Silva Viegas, chefe de Estado-Maior do Exército, que entregou o pedido de demissão no passado dia 25.

"Eles dizem que o Exército não tem confiança ética no ministro da Defesa. Não é só confiança política no ministro, é confiança na pessoa, na moralidade, confiança ética. Isto é de uma gravidade enorme", afirmou Mário Soares, passando a pedir a demissão de Paulo Portas.

O primeiro-ministro não pode "começar a assobiar para o lado e pensar que isto não é com ele quando ele é responsável por ter lá aquilo que se está a transformar num tumor", continuou Soares, acrescentando: "Os tumores têm de ser extirpados ou contaminam o corpo todo e é isso que se está a ver."

Não é só o primeiro-ministro que Soares implica na demissão de Portas. Também o Presidente da República, Jorge Sampaio, deve actuar. "Pode-se disfarçar ou fingir que isto não existe. Pode o primeiro-ministro e o chefe de Estado pensar que não devem actuar", pergunta o ex-Presidente. E logo dá a resposta: "Talvez seja, no imediato, o mais fácil, mas vai dar maus frutos."

Questionado sobre o que devem fazer Durão e Sampaio, Mário Soares é duro e peremptório. "Devem extrair o tumor e isso é demitir o ministro.", conclui.

Sim ao veto de Sampaio, não à regionalização

Na entrevista à Antena 1, rádio com a qual mantém uma colaboração regular, comentando periodicamente a actualidade nacional, Mário Soares também avalia o veto de do Presidente da República à lei-quadro da criação de concelhos, manifestando a sua concordância.

Para o ex-Presidente o veto de Sampaio foi uma "boa coisa", bem como a proposta para que se pense "no ordenamento em geral do território". Agora, ressalvou, que isso não signifique um regresso à regionalização. Mário Soares entende que, na Península Ibérica, Portugal tem a "grande vantagem" de ser um Estado-nação, enquanto a Espanha é um conjunto de Estados com os problemas que isso acarreta. Por isso, defende que o "todo nacional seja salvaguardado".

Além disso, continuou o ex-Presidente, a regionalização iria "criar uma classe política intermédia" que "ia dar muito que falar e ia tornar o país bastante ingovernável".

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