Maria Luís Albuquerque incrédula: PS tem propostas que falharam “rotundamente”

A ministra das Finanças admite que não leu o programa todo do PS, mas critica: “Porque haveriam os portugueses de acreditar que exactamente a mesma receita que conduziu ao desastre de 2011 produziria agora resultados diferentes? Simplesmente não é credível.”

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Maria Luís Albuquerque enric vives rubio

De madrugada, o jornal diário da Universidade de Verão do PSD é metido debaixo das portas. Quatro páginas de textos e questões que os jovens dirigem aos sociais-democratas. No jornal desta terça-feira, um aluno pergunta ao secretário-geral do PSD, Matos Rosa, se não se devia centrar o debate nos próximos quatro anos, em vez de no passado. Matos Rosa responde: “Falar de futuro, sim; esquecer o passado, não!”

Recordar o passado, criticar os socialistas e defender a continuidade do trabalho deste Governo – esta tem sido a mensagem da Universidade de Verão do PSD. Até porque a proposta da coligação Portugal à Frente passa por fazer, no futuro, o que fez no passado. Por isso, “recordar o passado, em particular o percurso nos anos que antecederam Abril de 2011, é um exercício fundamental”, disse a ministra de Estado e das Finanças Maria Luís Albuquerque, nesta terça-feira, diante de uma plateia de jovens.

Com críticas tão demolidoras ao programa dos socialistas, foi com alguma surpresa que se percebeu, já depois da aula que deu na Universidade de Verão do PSD, que afinal a ministra não tinha lido o programa todo do PS: O programa todo, não, não li. Li algumas coisas daquilo que são os documentos que o PS tem vindo sucessivamente a publicar e alguns comentários sobre os mesmos.”

Quando falou aos jovens, Maria Luís Albuquerque mostrou-se estupefacta com as propostas dos socialistas: “Como é possível que um partido se apresente aos portugueses com propostas que falharam tão rotundamente quando aplicadas no passado? E como é possível que se afirme que agora sim, agora resulta. Porquê?”, questiona. E insiste: “Porque haveriam os portugueses de acreditar que exactamente a mesma receita que conduziu ao desastre de 2011 produziria agora resultados diferentes? Simplesmente não é credível.”

A ministra fez questão de sublinhar que o que aconteceu em Portugal “não foi obra do acaso, nem um azar”, nem sequer resultado exclusivo da crise financeira internacional. Os “erros” foram dos governos, dos empresários e das famílias, todos “iludidos pelo crédito fácil e barato”. Isto, apesar dos alertas de “vozes avisadas”. E não poupou nas críticas aos socialistas pelas medidas adoptadas em 2009 e 2010.

“Só o facto de não ter percebido o que aconteceu pode justificar que o PS volte a apresentar hoje, em 2015, depois de um resgate duríssimo para todos os portugueses, de novo a mesma receita”, acusou, acrescentando, depois, que “defender que o aumento da despesa pública é gerador de riqueza em si mesmo” é “incompreensível”. Assim como é “incompreensível” defender que o consumo privado “é o motor da economia e promove o crescimento”.

Nesta edição da Universidade de Verão do PSD, a proximidade das eleições legislativas tem sido um facto incontornável nos discursos: “Nunca é demais repetir a importância crucial de que estas eleições se revestem”, alertou a governante. O ponto a que quis chegar foi este, o apelo ao voto na coligação: “Soubemos também desde o início que a dimensão da tarefa a que deitámos mão em 2011 precisaria de mais de quatro anos para ser concluída.”

Porque o trabalho não está todo feito, frisou. Com a coligação PSD-CDS, as reformas e políticas até agora adoptadas são para manter. Até porque, se não é fácil governar sob um programa de ajustamento, fazê-lo “quando a economia recupera” também não. É “nesse momento que verdadeiramente se põe à prova a responsabilidade de quem toma as decisões”, afirmou Maria Luís Albuquerque. E alertou: “Quando a situação melhora não é altura de anunciar que já passou tudo e que podemos, de um momento para o outro, passar uma esponja no que aconteceu e repetir os mesmos erros”.

A intervenção de Maria Luís Albuquerque foi pontuada por perguntas: “O que seria de Portugal se nos próximos anos se voltasse repentinamente a aumentar a despesa? Se se prometesse tudo a todos? Na melhor das hipóteses, teríamos uma breve ilusão de crescimento, para voltarmos a acordar para uma realidade ainda mais dura do que a de 2011.” E o que diriam os parceiros europeus? “Que afinal Portugal não tinha mudado, apenas tinha aceitado as restrições quando não tinha alternativa e que, sem essa vigilância externa, permanente, voltaria aos erros do passado”.

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