Marcelo considera caso das facturas “uma tonteria”

Social-democrata diz que Francisco José Viegas se quis demarcar do Governo.

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"É cada vez mais necessária uma remodelação no Governo", diz Marcelo Rebelo de Sousa Nuno Ferreira Santos

Marcelo Rebelo de Sousa classificou neste domingo como “uma tonteria” o comportamento do Governo no caso da obrigatoriedade dos portugueses serem obrigados a pedirem facturas, correndo o risco de ser multados caso o não façam.

No seu habitual comentário na TVI, o antigo presidente do PSD lembrou que tudo começou com um comunicado do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, que, “com excesso de zelo”, apareceu a dizer que já havia pessoas multadas por não pedirem facturas.

Depois, acrescentou Marcelo, afirmava-se que as pessoas podiam ser multadas à saída dos estabelecimentos comerciais. “Uma tonteria. Criou-se uma polémica desnecessária num assunto que era pacífico”, afirmou o também conselheiro de Estado de Cavaco Silva.

Já sobre a frase do antigo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, que escreveu que mandaria os fiscais do fisco “tomar no cu” se o abordassem, Marcelo considera que Viegas “percebeu o estado de espírito dos portugueses” e usou uma expressão dura "intencionalmente para chocar" e para “se demarcar do Governo". 

"É a forma mais eficaz e rápida para se demarcar do Governo de onde saiu há uns meses. Isto é um problema de política."

Para o ex-líder social-democrata, Viegas vai ficar mais conhecido no futuro por ter dito aquela frase e não pelo seu trabalho profissional de escritor e editor de livros.

 

"Governo está a mudar subtilmente"

Comentando a atitude do Governo sobre os números do desemprego (taxa de 16,9% no final de 2012) e da recessão (3,2% em 2012), Marcelo afirmou que a equipa de Pedro Passos Coelho está a mudar de atitude mas não o quer assumir.

"O Governo está a mudar subtilmente por força dos números da economia", afirma Marcelo, exemplificando: no Parlamento, Passos Coelho "admitiu que está atento aos efeitos económicos e sociais" das políticas do Governo, nas jornadas do PSD disse ter consciência de que a corda dos sacrifícios já não pode esticar mais, e agora "surge a ideia ao de leve de que o corte de 4000 milhões de euros não pode ser feito de uma assentada", mas antes faseado.

"Tudo isto é novo em Passos Coelho. A habilidade do Governo é mudar a posição sem aceitar publicamente que está a mudar a posição. Por exemplo, não vai admitir que já quer prazos maiores, como o PS pede há muito tempo", acrescentou Marcelo. "Isto é uma grande mudança do Governo fingindo que não está a mudar", insistiu.

Sobre o facto de ser Paulo Portas o autor, com Vítor Gaspar, do documento que servirá de guião para esse corte na despesa estrutural, Marcelo considera que a estratégia do Governo é boa.

"Vítor Gaspar tem a teoria, Paulo Portas tem a experiência política e no terreno. Se o Governo tivesse um ministro da Presidência, era ele que faria [o guião]", afirmou Marcelo. Portas, na sua opinião, irá "acompanhar politicamente os cortes, para garantir que há sensatez".

No fundo, "é pedido a Paulo Portas não que faça a reforma do Estado, mas um papelinho do que se irá fazer no futuro e como se farão os cortes. Mas Marcelo não tem dúvidas de que o papel que Portas agora assume terá "o seu preço" na coligação.

Marcelo também defende que o Governo deveria tratar com mais cuidado da sua estratégia de comunicação. "O que aparecer tem que ser concertado - e isto vale o mesmo seja para o PSD ou para o CDS. Tem que ser um discurso muito certinho sobre os cortes, a dimensão económica, a evolução na Europa - em especial até  Setembro, quando há eleições na Alemanha."

 
 

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