Marcelo aproxima-se de Costa no modelo económico

Candidato ouve queixa de estudante que não consegue votar antecipadamente por razões administrativas.

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Miguel Manso
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A campanha de Marcelo Rebelo de Sousa estreou-se nos temas económicos. E não foi para defender um modelo económico próximo do proposto pela sua área política. Pelo contrário, o candidato avisou que “não se pode esquecer o estímulo ao consumo interno”, que é a base das propostas do PS.

O alerta foi deixado num almoço com comerciantes, num dia de campanha que fez uma pausa durante a tarde para a prova de doutoramento a que o candidato, na pele de professor catedrático na Faculdade de Direito, não quis faltar.

O modelo económico defendido por Marcelo foi de “equilíbrio” entre a aposta nas exportações e a procura interna.  “No momento em que há carências básicas, há risco de deflação, no momento em que é preciso fazer crescer emprego, uma coisa é não apostar de forma exclusiva do consumo interno, outra coisa é esquecer a realidade do consumo interno”, afirmou o candidato, num almoço, em Lisboa, promovido pela União de Associações de Comércio e Serviços (UACS) em conjunto da Confederação de Comércios e Serviços de Portugal (CCP).

Uma posição contrária à proposta pela coligação PSD/CDS e defendida fortemente por Passos Coelho nos últimos anos. “Uma coisa é olhar-se o país a partir de esquemas feitos no gabinete, outra é olhar para o país real. Andar pelas ruas, ver o que abre e fecha”, referiu Marcelo, defendendo que é “no equilíbrio entre os dois que deve residir a procura de um modelo realista” para a economia.

Mais tarde, numa outra iniciativa do dia, o candidato haveria de corrigir um pouco a sua declaração ao avisar que estímulo ao consumo interno, sim, mas é preciso ter “cuidado” por causa do aumento da dívida pública.

Perante algumas dezenas de comerciantes, o candidato – ele próprio “neto de comerciante” - trazia um discurso com preocupações económicas. À cabeça a disponibilização dos fundos comunitários, que precisa de ser mais rápida. “Olhando para os fundos europeus, há sempre arranque lento. Uma coisa é quando a economia está estabilizada, outra é sair da crise. Não é indiferente haver disponibilidade de fundos em 2016 ou haver em 2017”, sustentou. O candidato referiu ainda a preocupação com a “estabilidade em termos fiscais” e a importância do reforço do sistema financeiro.

A mensagem da necessidade de consensos de regime e da estabilidade governativa, que é hábito constar das suas intervenções, foi ali repetida. O Governo tem o desafio de manter a “solidez da sua base de apoio”, a oposição tem de “refazer-se”.

Aos consensos de regime, Marcelo sublinhou a importância da concertação social – de que a CCP faz parte –, um fórum em que “todos” os parceiros são relevantes e não apenas “alguns”. Pressupostos para uma “boa saída da crise” e em que Marcelo diz que o Chefe de Estado se deve empenhar na figura de um “moderado” e não noutros papéis que já foram seus: “O Presidente não é um analista, não é um comentador, é um protagonista cimeiro da vida política”.

Outro papel que já desempenhou foi o de director de um jornal, o Expresso, quando saiu o primeiro número, com a manchete de uma sondagem: “63% dos portugueses nunca votaram”. Um jovem perguntou-lhe se essa percentagem não poderá ser em breve sobre a abstenção e não em resultado de uma limitação do sistema. Marcelo já estava na segunda iniciativa do dia, uma sessão com jovens, promovida pela plataforma Reset (que se assumiu como uma organização apartidária) e pela Conexão Lusófona, outra associação ligada aos países de língua portuguesa.

“Espero bem que não. Seria um grande fracasso da parte dos protagonistas políticos, económicos e sociais”, respondeu. “Seria muito mau para a democracia”, disse, fazendo depender essa situação do crescimento económico: “Ou invertemos o empobrecimento ou não há como evitar as tensões sociais, os radicalismos políticos e as frustrações”.

Depois de enfatizar a importância da participação dos jovens na vida política – “é preciso meter o pé na porta e ir forçando” –, o candidato foi confrontado com queixas de um estudante que queria exercer o voto antecipado e não conseguiu por questões administrativas. “Já tinha recebido essas queixas. Isso é burocracia. Significa que muitos estudantes deslocados não vão poder votar. Lamento vivamente”, disse, reconhecendo que “é o contrário de incentivar essa participação na vida política”.  

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