Maioria convencida de que actuação da polícia abre precedente grave

No PSD e CDS considera-se que a atitude de derrubar barreiras vai prejudicar as reivindicações das várias forças de segurança que se manifestaram.

A maioria PSD/CDS assume que a invasão da escadaria do Parlamento por parte de membros das forças de segurança foi grave e não se deve voltar a repetir. À boca pequena, reconhece que se abriu um precedente.

"É claro que abre um precedente, que vai complicar a gestão das próximas manifestações", comentou ao PÚBLICO uma fonte da maioria. Mas há quem coloque outro cenário e compreenda a atitude condescendente dos polícias que estavam a fazer a segurança à manifestação na escadaria do Parlamento. "Uma repetição dos 'secos e molhados' de 1989 seria uma tragédia", afirmou outra fonte da maioria parlamentar.

Uma coisa parece certa entre os deputados de PSD e CDS: esta iniciativa de derrubar as barreiras vai prejudicar as reivindicações das várias forças que se manifestaram. Na maioria, há quem tente salvar Miguel Macedo da fogueira e lembre que nem todas são tuteladas pelo ministro da Administração Interna. Há forças como a Polícia Judiciária ou os guardas prisionais que são da responsabilidade de Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça.

Num dia em que se tentavam serenar os ânimos, as declarações da presidente da Assembleia da República sobre os acontecimentos na porta principal do edifício vieram trazer mais achas para a fogueira e não caíram bem na maioria parlamentar. Assunção Esteves disse que "o Parlamento tem orgulho em ser a casa, a porta, a que todos batem".

"Digo isso aos manifestantes que recebo. Naturalmente que há emoções nas manifestações, às vezes há excessos, há até infiltrações de pessoas que nada têm que ver com elas, mas a única coisa que eu quero dizer é que o Parlamento tem orgulho em ser a casa, a porta, a que todos batem", declarou. Aos jornalistas, a presidente manifestou "alegria" por a manifestação de elementos das forças de segurança ter terminado "de forma pacífica".


 

A maioria entendeu que estas afirmações foram demasiado condescendentes com a gravidade da situação. "É claro que abre um precedente, que vai complicar a gestão das próximas manifestações", comentou ao PÚBLICO uma fonte da maioria. Mas há quem coloque outro cenário e compreenda a atitude condescendente dos polícias que estavam a fazer a segurança à manifestação na escadaria do Parlamento. "Uma repetição dos 'secos e molhados' de 1989 seria uma tragédia", afirmou outra fonte da maioria parlamentar.


 

Os deputados do PSD e do CDS foram bastante mais duros a reagir ao desfecho da manifestação. O social-democrata Fernando Negrão admitiu chamar o ministro da Administração Interna ao Parlamento, o que viria a ser pedido pelo PS através dos deputados Marcos Perestrello e Pita Ameixa, tendo em conta a "gravidade e excepcionalidade" dos acontecimentos. Num requerimento entregue esta sexta-feira, os deputados propõem ouvir com urgência o ministro Miguel Macedo e o director nacional da PSP que se demitiu.

Salientando que foi exercido um "direito à manifestação", Fernando Negrão (que foi director da Polícia Judiciária) admitiu que "o limite foi ultrapassado" quando os manifestantes invadiram um espaço de um órgão de soberania.

Outra voz de desagrado no PSD veio do próprio porta-voz do partido, Marco António Costa. "Acima de tudo, aquilo que desejo é que não volte a acontecer uma situação desta natureza. Todos nós temos consciência de que existem organizações que têm o especial dever de exemplo na sua actuação. Aquilo que se passou ontem [quinta-feira] é desejável que não se volte a repetir", afirmou o coordenador da comissão permanente do PSD.

Mais peremptório foi Nuno Magalhães, líder da bancada do CDS. "Num Estado de Direito democrático, [os acontecimentos de quinta-feira à noite] não podem voltar a repetir-se. Uma coisa é o direito legítimo à insatisfação, outra coisa é saltar regras, saltar barreiras, a escadaria. Dá o sinal contrário à população, às populações por parte de quem tem a missão de as defender", afirmou o centrista, antigo secretário de Estado da Administração Interna. "Estes actos são graves e não se devem voltar a repetir", concluiu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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