Luís Castro aponta Nuno Santos como único decisor da entrada da PSP na RTP

No Parlamento, o ex-subdirector da RTP declara que não fez parte da tomada de decisão.

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Luís Castro no Parlamento, esta quarta-feira Daniel Rocha

O ex-subdirector de Informação da RTP Luís Castro apontou, esta quarta-feira, Nuno Santos como o único decisor da autorização para a entrada da polícia na televisão pública e para o visionamento de imagens pela polícia.

Falando aos deputados da comissão parlamentar de Ética, Luís Castro contou que só entrou no caso quando, na noite de dia 14, essa decisão já estaria tomada por Nuno Santos.

“Não fiz parte da tomada de decisão. Posso não saber o que a polícia pediu, mas sei o que Nuno Santos me transmitiu. Nuno Santos senta-se ao meu lado na redacção e diz-me textualmente ‘a polícia vem à RTP visionar as imagens’ e acrescenta ‘temos que arranjar um sítio’”, descreveu Luís Castro, vincando que o ex-director lhe transmitiu “de forma inequívoca, clara, e que não deixa dúvidas” que este “autorizou a vinda da polícia à RTP”.

“Temendo qualquer manobra do SIS decido fazer um telefonema pessoal ao inspector-geral da PSP. Ligo ao Magina da Silva, ‘conheces fulano tal?’, ele diz-me que não conhece. ‘Não te importas de confirmar que é mesmo polícia?’. E ele volta a ligar e diz-me, ‘sim, é polícia’. Em momento algum eu e o Magina da Silva falámos sobre visionamento de imagens”, contou Luís Castro.

O ex-subdirector de Informação quis então saber onde iriam colocar a PSP a ver as imagens e ofereceu o seu gabinete, sabendo depois que a PSP iria à RTP no dia seguinte, dia 15. Castro diz que pediu logo o equipamento chamado laptop para que a PSP pudesse ver as imagens sem ter que usar o seu computador.

No dia seguinte, Luís Castro avisou a jornalista Ana Santos, que estava dentro do carro da RTP abalroado nos incidentes junto ao Parlamento, para aproveitar para “identificar o incidente” nas imagens que a PSP ia ver a seguir no seu gabinete. A seguir avisou Vítor Gonçalves de que a PSP estava no seu gabinete a ver as imagens.

Castro argumenta que ofereceu o seu gabinete não por ser “discreto” mas apenas para os dois agentes terem “recato”. “O meu gabinete fica no corredor por onde toda a redacção passa; é um gabinete de porta aberta, em frente ao qual está o relógio de ponto. Se fosse para esconder, não seria ali. O meu gabinete não é para esconder, é para recato.”

O então subdirector de Informação admite que podia ter questionado a ordem do director Nuno Santos, mas não o fez por entender que estava a obedecer a “um comando cuja cadeia tem uma hierarquia”. “Transmitiram-me uma decisão”, não se cansou de vincar Luís Castro.

O ex-subdirector considera que “a tese de que a PSP teria ido à RTP visionar as imagens do incidente apenas com o carro da RTP é falso. Pelo que sei e pelas conclusões do inquérito, a PSP vai à RTP fruto de um pedido de visionamento das imagens em bruto. Se quer as imagens que foram emitidas gravava ou ia à box da Zon”, ironizou. “Se a polícia vai à RTP, vai para visionar as imagens em bruto”, esclareceu Luís Castro.

Luís Castro afirmou ter recebido no dia seguinte, sexta-feira, 16, às 19h53, um SMS de Nuno Santos, a partir de Londres, dizendo “como já saberás, podemos ter uma crise com as imagens. Não fales com ninguém até concertarmos posição”. De Vítor Gonçalves terá recebido, também por SMS, a indicação para que enviasse uma mensagem à jornalista Ana Santos para manter o assunto “sob sigilo”. Tal descrição, mostra que “Nuno Santos e Vítor Gonçalves foram conduzindo o processo” e que Castro apenas toma “conhecimento de parte desse processo”.

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