Passos e Costa trocam acusações sobre discursos contraditórios em Portugal e Bruxelas

Primeiro-ministro comete lapso sobre assessora de Passos Coelho

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António Costa num dos últimos debates quinzenais da sessão legislativa Daniel Rocha

O primeiro-ministro e o líder do PSD trocaram acusações sobre a duplicidade de posições assumidas em Portugal e em Bruxelas, durante o debate quinzenal, no Parlamento. Foi um duelo em tom crispado e em que António Costa confundiu uma jornalista com uma assessora de Passos Coelho.

A primeira acusação foi lançada pelo primeiro-ministro. “Eu digo aqui que não quero sanções e não estou em Bruxelas a aplaudir o líder do PPE que defende as sanções (…) nem aplaudo Schauble a pedir sanções para Portugal”, afirmou António Costa, lembrando que a política do anterior Governo era “elogiada” pelo ministro alemão das Finanças.

Nesse momento, pega num telemóvel de um outro membro do Governo (aparentemente do secretário de Estado Pedro Nuno Santos) e cita um título de uma notícia do Jornal de Negócios (em 2012), de Eva Gaspar, referindo-a como futura assessora do ex-primeiro-ministro. Na verdade, quem trabalhou no gabinete de Passos Coelho foi Eva Cabral, como o próprio viria a corrigir mais tarde, enquanto Eva Gaspar continua a ser jornalista naquele jornal económico.

Relativamente à acusação de duplo discurso, o líder do PSD percebeu o recado e respondeu. “Enquanto fui primeiro-ministro não fiz dois discursos. Mas parece-me que visitou a Grécia e assinou com o seu colega de Governo um manifesto contra a austeridade. Foi contra esse programa de austeridade ou a favor?”, questionou.

António Costa sustentou que há uma relação construtiva sobre a Europa e que não deseja o mal da Grécia. Mas, perante a insistência de Passos Coelho, o primeiro-ministro respondeu que o programa de austeridade foi aprovado por todos os países, incluindo Portugal, o que gerou regozijo na bancada social-democrata. O líder do PSD rematou: “Fico a saber que quando o Governo PS aprova programas de austeridade à Grécia está a ajudar a Grécia. Já sabemos o que significa a duplicidade de discursos”.

Os dois líderes tiveram ainda uma divergência sobre a “destruição de 48 mil empregos”, na expressão de Passos Coelho, e a que o primeiro-ministro atribuiu ao fim de um programa que estava a ser financiado.

Governo não recorre a “divisões artificiais”, diz Costa

Na intervenção inicial, António Costa defendeu que o seu Governo se dirige a todos os portugueses, “sem recorrer a divisões artificiais, ilegítimas e perigosas entre novos e velhos, activos e pensionistas ou funcionários e demais trabalhadores”. E que está a pôr em prática uma “nova cultura política de governo” baseada na “centralidade do debate democrático e parlamentar”. O actual Governo, vincou, “faz ponto de honra do respeito escrupuloso pela Constituição e as decisões do Tribunal Constitucional”.

O primeiro-ministro abriu o debate quinzenal enaltecendo os objectivos do Plano Nacional de Reformas e os elogios da Comissão Europeia, e disse ser o este o programa que “marca a viragem face a uma estratégia errada de competitividade assente no empobrecimento seguida nos últimos anos”.

O chefe do Governo falou sobre os diversos projectos anunciados recentemente associados aos pilares do Plano Nacional de Reformas como o Simplex +, Start-Up Portugal, Indústria 4.0, Plano 100, Estratégia do Turismo e a Unidade de Missão para a Capitalização das Empresas. E afirmou estar “convicto” que aplicando “na íntegra” as medidas do PNR, o país “corrigirá os desequilíbrios macroeconómicos e ultrapassará os bloqueios estruturais que têm travado o desenvolvimento do país”. Mas não especificou quais os riscos para o país se essas medidas não forem totalmente cumpridas. 

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