Lesados do BES ensombraram primeiro dia da "maratona" de Passos e Portas

De manhã, o líder do PSD apelou aos manifestantes para terem calma e prometeu apoiá-los, ajudando a angariar dinheiro para recorrerem a tribunal. Mas à noite, os manifestantes voltaram a protestar ruidosamente no Porto, onde a coligação tinha um jantar de campanha.

Manifestantes do BES à porta da Alfândega do Porto, onde se realizou um jantar-comício da coligação
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Manifestantes do BES à porta da Alfândega do Porto, onde se realizou um jantar-comício da coligação Lara Jacinto/NFactos
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O apelo de Pedro Passos Coelho aos lesados do BES para terem calma relativamente à devolução das suas poupanças, neste sábado de manhã no mercado municipal de Braga, caíram em saco roto. Indiferentes às garantias deixadas pelo primeiro-ministro e depois de uma manhã atribulada, os manifestantes voltaram a manifestar-se ao fim do dia junto ao edifício de Alfândega do Porto para responsabilizar o Governo.

Faltavam cinco minutos para as 21h00 quando Passos Coelho e Paulo Portas ali chegaram para um jantar que reuniu mil comensais no primeiro dia da chamada "maratona" da coligação de direita, que saíu para a rua uma semana antes da campanha oficial. Nessa altura, já os ânimos tinham acalmado, depois de alguns momentos de tensão, provocados por um grupo de moradores de Miragaia que se juntaram também à porta da Alfândega, e que obrigou mesmo a polícia a intervir.

De manhã, a recepção a Passos Coelho e a Paulo Portas no mercado municipal de Braga foi marcada por palavras de ordem, insultos, muitos empurrões e movimentações de cerco aos dois membros do governo e líderes da coligação. Na ocasião, aos lesados do BES juntaram-se alguns professores que se manifestaram contra o Governo, impedindo que a comitiva que acompanhava Passos e Portas se conseguisse movimentar, o que levou o primeiro-ministro a apelar de braços, no ar, por várias vezes, à calma.

Enquanto tentava circular pelo mercado, Passos Coelho foi questionado por vários manifestantes, que irritados gritavam palavras como “Portugal” e “gatuno”. O clima de tensão acabou por encurralar a coligação nos restritos corredores do mercado municipal.

Em conversa com o primeiro-ministro, um antigo cliente do BES questionou-o sobre o que é que o Governo vai fazer sobre o caso do banco. Começando por explicar que uma coisa é o Grupo Espírito Santo, outra coisa é o banco e o banco está defendido, Passos assegurou que os “responsáveis vão responder em tribunal por isso”.

O antigo cliente do BES fez saber ao primeiro-ministro não ter capacidade para recorrer à justiça sobre a responsabilidade na falência do Grupo Espírito Santo e do BES. Perante esta confissão, Passos respondeu: "Se não têm dinheiro para ir lá, eu organizarei uma subscrição pública para os ajudar a recorrer ao tribunal". Uma resposta já tinha sido sugerida aos lesados do BES pelo próprio primeiro-ministro durante o debate com o líder do PS, António Costa, na quarta-feira.

Após o protesto, Passos adiantou às televisões que "existe sempre forma de o Estado garantir um recurso ao tribunal por parte de qualquer pessoa que não tenham rendimentos para ver fazer-se justiça no tribunal". E acrescentou: "Serei até o primeiro subscritor e contribuinte, a título individual, não como primeiro-ministro, mas como cidadão, para ajudar pessoas que se encontram em grandes dificuldades a ir a tribunal".

Esta é a segunda vez na mesma semana que os lesados do BES embaraçam a coligação Portugal à Frente. No passado domingo, em Ofir, em Esposende, dezenas de manifestantes do BES concentraram-se junto ao hotel onde decorreu a Escola de Quadros do CDS. Vaias, empurrões, assobios e muitos impropérios foram dirigidos ao Governo e a Paulo Portas, que foi obrigado a sair de Ofir sob escolta policial.

Em Braga também foi preciso protecção policial para Passos e Portas abandonarem o mercado municipal, cerca das 11h.

Contra os "profetas da desgraça"
No jantar na Alfândega, que reuniu mil comensais, o primeiro-ministro criticou os “profetas das desgraças que hoje lavam as mãos do que aconteceu em 2011”. E disparou numa indirecta contra António Costa: “Lembram-se, fui eu que chamei a troika”. A sala respondeu com uma gargalhada e não foi preciso dizer que o destinatário era o secretário-geral do PS que, no debate com o primeiro-ministro, acusou-o de ter chamado a troika.

Passos glosou com a “revelação” ao país do líder do PS e chamou-lhe “epifania”. E devolveu as acusações, afirmando que os “profetas da desgraça não assumem a sua própria responsabilidade, querem atirar a crise para aqueles que a venceram e ainda se propõem serem levados a sério, apresentando-se aos portugueses com a mesma receita que nos trouxe ao colapso de 2011”.

Pouco antes, Passos Coelho deixara um sinal de esperança aos portugueses, revelando que o ciclo de crescimento da economia vai continuar em 2016, deitando por terra a teoria da “espiral de recessão”. Afirmando que a economia cresceu “em todo o ano de 2014”, garantiu que “crescerá com mais vigor em 2015, sendo certo hoje que sabemos também acontecerá o mesmo com o crescimento de 2016. Onde estão tantos os que vaticinaram que a economia não iria crescer e que mergulharíamos na espiral de recessão?”, perguntou, criticando aqueles que “levam agora pagam depois”.

O vice-primeiro-ministro e líder do CDS, Paulo Portas, agitou com o regresso da troika a Portugal e dirigindo-se à classe média disse: “Connosco não há risco de uma troika qualquer voltar a Portugal, connosco haverá facilidade para melhorar salários na função pública e eliminar progressivamente a sobretaxa, garantir investimento no emprego e melhorar as políticas de apoio à família”.

Portas, que foi muito aplaudido, deixou uma outra reflexão aos convidados, dizendo: ”Quanto mais houver sinais de incerteza económica no mundo mais os portugueses devem acrescentar certeza política  à actuação em Portugal”.

 

 

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