JPP insiste em comissão de inquérito às contas do Jornal da Madeira

Juntos Pelo Povo entrega hoje, no parlamento regional, um requerimento para uma comissão de inquérito, para apurar responsabilidades nos 52 milhões de euros do jornal onde Jardim escrevia.

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A assembleia regional irá apreciar a proposta de comissão de inquérito Foto: Rui Gaudêncio/Arquivo

O partido Juntos Pelo Povo (JPP) entrega  esta segunda-feira, na Assembleia Legislativa da Madeira, um pedido de requerimento para a realização de uma comissão eventual de inquérito para “Apreciação do passivo da empresa Jornal da Madeira”.

A iniciativa, que foi confirmada ao PÚBLICO pelo líder parlamentar do JPP, Élvio Sousa, é subscrita pela maioria dos partidos da oposição – CDS, BE, PCP, PND – faltando confirmar o apoio do PS.

“Queremos saber como e onde foram gastos os 52 milhões de euros que aquela empresa apresenta como passivo”, justificou Élvio Sousa, dizendo que nos documentos que o partido teve acesso é visível que entre 2011 e 2015 os gastos do Jornal da Madeira cresceram exponencialmente, através de encargos judiciais.

É precisamente nesse período temporal que Élvio Sousa quer concentrar os trabalhos da Comissão de Inquérito, visando apurar eventuais responsabilidades dos órgãos de gestão da empresa e da tutela do Governo regional, na “acção ou omissão” que tenha contribuído para o passivo.

“Na administração pública e nas empresas públicas não há, nem pode haver, documentos secretos, e neste caso existem muitas facturas que nos estão a ser negadas”, acusa o também secretário-geral do partido, exemplificando com os 500 mil euros contabilizados nas contas daquela empresa que não estão documentados.

Esta é a segunda tentativa do JPP ter acesso às contas do Jornal da Madeira. A primeira, através de um requerimento para a instauração de uma comissão eventual, foi chumbado pela bancada social-democrata no início de Novembro, mas Élvio Sousa está convencido que agora, com o apoio de toda a oposição – o PS não deverá querer ficar de fora -, e o facto da figura da comissão de inquérito ser votada de forma diferente, vai permitir uma investigação exaustiva sobre as contas do matutino, mesmo contra a vontade do PSD.

Contas a pente fino
Na narrativa do JPP, o grupo parlamentar do PSD está a dar “cobertura” ao secretário regional da tutela, Sérgio Marques, constituindo-se como uma espécie de “guarda-costas” dos actos contabilísticos e administrativos “menos transparentes” dos anteriores gestores. Élvio Sousa recorda que uma das promessas eleitorais de Albuquerque foi vender o JM e terminar com a injecção de suprimentos naquele matutino, mas está a acontecer exactamente o contrário: “Facto é que o JM continua a receber as injecções de dinheiros públicos”.

Mas Élvio Sousa está mais concentrado no passado do que no presente. O partido quer saber, entre outros contratos, se os articulistas – todos próximos de Alberto João Jardim – recebiam para escrever e qual a verba envolvida para cada um deles. “Pretendemos saber também como é que, numa empresa com aquele passivo, e com a Madeira submetida a um plano de resgate, a massa salariar da administração subiu 20% nos últimos anos”, questiona o deputado, que quer concentrar os trabalhos da comissão nos pagamentos feitos à sociedade de advogados Paulo Almeida & Associados e à empresa Informar, Lda.  

“Passar o Governo a pente fino” foi o mote da campanha eleitoral do JPP nas regionais de Março passado. O partido foi um dos grandes vencedores das eleições, entrando pela primeira vez no parlamento madeirense e logo como terceira força política, a par do PS. Agora, garante Élvio Sousa, quer cumprir. “Depois do JM, vamos nos debruçar na Empresa de Electricidade da Madeira, e na GESBA [empresa que gere o sector da banana].”

Em relação ao matutino onde Jardim escrevia diariamente e que funcionou durante anos como um instrumento de propaganda do executivo regional e do PSD-Madeira - tendo sido mesmo utilizado como arma política nas eleições internas que o opuseram a Miguel Albuquerque -, o actual governo reafirmou recentemente a intenção de privatizar a empresa até ao final do próximo ano.

Sérgio Marques, secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus com a tutela da comunicação social, foi à Assembleia explicar que as despesas da região com o jornal foram reduzidas em perto de dois milhões de euros, e garantir que a restruturação em curso na empresa visa torná-la mais atractiva para os potenciais compradores.

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