José Sócrates prepara em segredo governo "hiperpolítico" para dois anos

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Escolha do Governo está a ser gerida quase exclusivamente por José Sócrates Daniel Rocha

Ainda está longe de estar definido, mas o próximo governo socialista deverá ter um perfil "hiperpolítico", fortíssimo e sem falhas, preparado para um mandato duro e possivelmente curto, tendo em conta a situação minoritária no Parlamento. Ontem à noite, o secretariado nacional do PS terá começado a definir alguns perfis e modelo de governo, mas as expectativas apontam para um executivo sem grandes surpresas, embora com alguma renovação, como prometeu Sócrates e pedira antes Cavaco Silva.

Como não podia deixar de ser, o dossier está a ser gerido quase exclusivamente por José Sócrates e poucos elementos do núcleo duro do actual Governo foram consultados pelo líder. Como profissional que é, o primeiro-ministro irá dar cada passo com o máximo de cautela, no momento em que considerar correcto e não irá permitir falhas ou fugas de informação, excepto as que desejar.

São muitas, portanto, as interrogações que se levantam. Desde logo quanto ao modelo de executivo a criar: vai José Sócrates manter o essencial do actual organigrama, ou optar por outro em que se desdobrem ou juntem pastas de acordo com as conveniências políticas e os perfis dos escolhidos? Irá optar por reforçar o seu gabinete, criando o cargo de vice-primeiro-ministro ou aumentando o número de adjuntos do primeiro-ministro, como fez António Guterres?

Um dirigente socialista ouvido pelo PÚBLICO admite que, no cenário de governo minoritário, Sócrates possa querer ter na secretária ao lado da sua um homem da sua absoluta confiança, como Pedro da Silva Pereira.

Mas a possibilidade de colocar o actual ministro da Presidência nos Assuntos Parlamentares é um cenário igualmente admitido, uma vez que esta pasta será absolutamente fulcral num governo que tem de estar, ao mesmo tempo, pronto para a guerra e para as negociações.

Pontes no Parlamento

Para este posto-chave outros dois nomes têm sido referidos, como Francisco Assis ou Alberto Martins. Ambos têm grande experiência parlamentar e podem fazer pontes no Parlamento. Assis deixou o Parlamento Europeu para voltar à Assembleia da República, mas não necessariamente para ficar na bancada. É visto como ministeriável e o Parlamento o meio onde se move melhor.

Já Alberto Martins pode ser convidado a manter-se como líder parlamentar, como deixou antever Augusto Santos Silva no Prós e Contras da RTP. Questionado sobre se estaria disponível para continuar nos Assuntos Parlamentares ou liderar a bancada, Santos Silva respondeu que, no primeiro caso, a decisão era exclusivamente de Sócrates. Quanto ao grupo parlamentar, afirmou que Alberto Martins é (assim, no presente) um excelente líder.

A linha dura que Santos Silva acabou por assumir na pasta e no secretariado socialista, tendo ficado na memória a célebre frase sobre "malhar na direita", não é um bom cartão de visita para agora aparecer como negociador ao centro, onde o PS vai ser tentado a encontrar grande parte dos consensos governativos. Mas Sócrates não o descartará. Pode, pois, recolher à Presidência, ou surgir numa pasta que exija "músculo".

Inamovíveis e expectáveis

Inamovíveis são, tudo indica, Teixeira dos Santos nas Finanças, Luís Amado nos Negócios Estrangeiros e Ana Jorge na Saúde. Tida como certa é Isabel Alçada na Educação: foi ela quem surgiu na apresentação do programa de governo do PS, na convenção nacional e até na campanha a defender a obra no sector. Vieira da Silva, outro dos homens-fortes do Governo, deverá deixar o Trabalho, onde as reformas estão feitas, e pode dar lugar a Maria de Belém, que asseguraria pontes à esquerda do partido, em especial com Manuel Alegre. Por seu lado, o nome de Vieira da Silva já surgiu ligado à Economia, onde vai ser preciso fazer algumas cedências ao centro-direita.

As pastas da Economia e da Agricultura são aquelas em que Sócrates mais será tentado a fazer acordos com o PSD e o CDS. Na primeira, o nome de Basílio Horta também tem sido testado nalguns círculos, com a experiência de quem preside à Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal. Na Agricultura, o nome de Ascenso Simões, actual secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e coordenador da campanha eleitoral, é o que ganha mais força. Mas não seria de espantar ver surgir aqui um independente mais à direita, numa lógica de acordos com o CDS.

Duas grandes incógnitas pairam ainda sobre as pastas de Estado - Defesa e Administração Interna. Nem Severiano Teixeira nem Rui Pereira se devem manter nos cargos, havendo aqui margem de manobra para Sócrates encontrar perfis bem acolhidos pela direita, como convém.

É esperar que haja renovação geracional no novo executivo, algo que era dado como certo antes das eleições, e nesse contexto há toda uma nova geração que deve ter lugar assegurado: Fernando Medina, Sérgio Sousa Pinto e João Tiago Silveira são nomes com que se conta. De fora poderá ficar António José Seguro, apesar de o nome deste opositor interno de Sócrates ser visto como ministeriável nalguns meios.

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