Jornadas juntam Passos e Portas, um prenúncio de coligação?

Distritais do PSD e do CDS estão a preparar sessões conjuntas para debater investimento. Os dois líderes estarão juntos nas jornadas que estão a ser entendidas como um preliminar para anunciar a coligação.

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Passos e Portas estarão juntos na abertura das jornadas Enric Vives-Rubio

O PSD e o CDS estão a preparar jornadas para debaterem a estratégia conjunta para o futuro sobre o investimento. A iniciativa, que juntará Passos Coelho e Paulo Portas, está a ser entendida como um sinal de que as conversações para a renovação da coligação vão no bom caminho. Na maioria, há quem acredite que as jornadas podem ser uma iniciativa preliminar ao anúncio da coligação ou mesmo servir como palco para o desfecho do acordo para as legislativas.

Apesar de uma divulgação muito discreta das jornadas nos partidos, as distritais do PSD e do CDS estão a ser contactadas para organizarem uma sessão, com a presença de membros do Governo, sobre investimento e emprego. O anúncio da iniciativa foi feito apenas pelo PSD, no passado sábado, por comunicado, e desde então ainda não foi divulgada mais informação. Nem nos sites oficiais dos partidos foi publicada qualquer nota. Tanto no PSD como no CDS há prudência em falar de um acordo de coligação já fechado, mas ninguém nega que é um passo em frente no sentido de uma aliança pré-eleitoral.

Logo no sábado, o coordenador da comissão permanente do PSD, Marco António Costa, deu o tom sobre a iniciativa, dizendo à Lusa que as jornadas servem para apresentar a “estratégia de investimento para o futuro”. O objectivo é, adiantou, mostrar o que os dois partidos pensam “sobre o plano estratégico de transportes e infra-estruturas” e o que pensam fazer para investir na capacidade exportadora, tendo como pano de fundo o novo quadro de apoios comunitários, o Portugal 2020.

As jornadas têm data marcada para começar – dia 19, quinta-feira da próxima semana – e terminam no final do mês (sem data divulgada). Só na sessão inaugural foi anunciada a presença dos dois líderes, mas é provável que também estejam juntos na última. Logo depois, há jornadas parlamentares do PSD (2 e 3 de Março) que, este ano, são organizadas em separado da bancada do CDS.

O anúncio da realização das jornadas foi feito depois de já ser público que o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro iniciaram conversações sobre a coligação (ver PÚBLICO 24/01/2015). Este sinal está a ser bem acolhido pelos dirigentes dos dois partidos que, na sua maioria, defendem as listas conjuntas como a forma mais eficaz de combater o PS.

“Isto é um primeiro passo para a renovação da coligação”, segundo uma fonte da maioria PSD/CDS. As sessões políticas – como foram anunciadas – também servem para pôr as distritais a trabalhar em conjunto, já que por vezes é aí que está o maior foco de tensão.

Em geral, sociais-democratas e centristas mostram-se satisfeitos com este sinal de aproximação dos dois partidos, apesar de as listas conjuntas provocarem uma maior disputa por lugares. Uma das questões que está em cima é o método de elaboração das listas, a que acresce a obrigatoriedade de cumprir a lei da paridade.

No CDS é aceite que a base tem de ser o resultado das legislativas de 2011 (em que o CDS elegeu 24 deputados), mas no PSD isso é considerado desproporcional. O vice-presidente do PSD José Matos Correia veio afirmar, em entrevista ao Expresso do passado sábado, não ser “razoável” trabalhar com base nos resultados das legislativas de 2011. E preferiu valorizar as “questões de substância”.

Para alguns responsáveis da maioria PSD/CDS é no teor das propostas, e sobretudo no tom do discurso que a coligação vai adoptar daqui para a frente, que se podem esperar mais divergências entre os dois líderes. O PSD mantém um discurso muito agarrado às finanças, enquanto o CDS prefere a viragem para o crescimento e a descolagem do discurso da consolidação orçamental. A escolha do tema do investimento para as jornadas conjuntas pode reflectir que, de facto, os líderes estão a abrir caminho para escreverem um mesmo programa eleitoral. 

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