João Semedo: "Desista, o país agradece"

A também coordenadora do partido, Catarina Martins, desferiu um ataque duro contra o pedido de um compromisso tripartido - PS. PSD e CDS - feito por Cavaco Silva.

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Nuno Ferreira Santos

João Semedo, coordenador do BE, arrancou a sua intervenção no debate do Estado da Nação, que decorre nesta sexta-feira no Parlamento, com um desafio de demissão ao primeiro-ministro. E acusou o Governo de estar ferido de morte.

"Desista, desista, o país agradece", disse João Semedo.

"O Governo morreu, o Governo acabou", acrescentou o líder bloquista, que ironizou com tentativas de remodelação que não convenceram o Presidente da República. Acusou o Governo de criar "uma representação teatral" em que se "mexe nas baialiarinas" e se "trocam ministros da esquerda para a direita", mas com a prossecução das mesmas políticas de austeridade.

Semedo descreveu depois os três "golpes mortais" sofridos pelo actual Executivo: demissão do ex-ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, demissão de Paulo Portas de ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e a declaração "crítica" do Presidente da República ao país, que "certificou a incapacidade" do Governo.

Cavaco Silva, disse Semedo, "recusou remodelar o Governo e até chamou o PS para salvar o Governo e a política de austeridade".

 Para responder a Semedo, Passos recuperou a notícia desta manhã que dá conta de que Portugal foi o país da União Europeia que registou o terceiro maior crescimento da produção industrial em Maio.

Da mesma bancada, a deputada Ana Drago afirmou que o primeiro-ministro fez a "prova pública da sua incapacidade e da sua incompetência para governar o país". Passos Coelho concretizou o "sonho da direita: uma maioria parlamentar, um Governo e um Presidente da cor política", elencou Ana Drago. 

A deputada do BE afirmou que o primeiro-ministro "vai ter que continuar sentado entre o ministro dos Negócios Estrangeiros e a ministra das Finanças como uma força intermediadora de paz para que não haja um novo conflito no Governo. Mas, a verdade é que vai haver", sustentou.<_o3a_p>

O primeiro-ministo "nada diz sobre o futuro a não ser continuar a aplicar a austeridade" disse Ana Drago, rematando que "tem que sair o mais rapidamente possível".

Numa terceira ronda, a deputada do BE Helena Pinto voltou a pedir a demissão de Passos, concluindo que o primeiro-ministro ainda não interiorizou que o seu Governo chegou ao fim. "O senhor primeiro-ministro reconheceu que a crise política foi desencadeada pela demissão do seu ministro Paulo Portas", afirmou Helena Pinto, que acrescentou que até Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças, "confessou o erro das suas políticas".

Coube a Catarina Martins, também coordenadora do partido, encerrar as intervenções do Bloco no debate que põe um ponto final nesta ssessão legislativa, antes da interrupção para as férias parlamentares. Aos pedidos de demissão do primeiro-ministro, Catarina Martins juntou críticas duras à actuação do Presidente da República durante a crise política.

"O que mudou no Estado da Nação, em menos de 18 meses, para que Cavaco Silva queira agora impor a solução que antes rejeitava? Estão porventura os partidos mais coligáveis? Serão os seus dirigentes mais confiáveis e confiarão mais uns nos outros? Não parece ser o caso. O que mudou é simples: o programa de ajustamento e a austeridade falhou, como ficou lapidarmente demonstrado na carta de Vítor Gaspar", defendeu Catarina Martins.

Catarina Martins tinha também guardadas algumas palavras para Paulo Portas, ao lembrar que faltam apenas "três dias" para que o líder do parceiro de coligação apresente o guião da reforma do Estado, que prevê o corte de 4700 milhões de euros.

Mas o ataque mais duro da bloquista estava, de facto, reservado para o chefe de Estado. "Não aceitamos o ataque à democracia, a imposição de um Governo não eleito, num modelo Monti italiano (...) O caminho da responsabilidade, o que responde às exigências sérias do actual Estado da Nação, é a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições. Chega de dissimulação. Eleições já. Essa sim, é uma decisão irrevogável para acabar com a dissimulação".

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