Instituto Camões aposta na formação de professores à distância

O objectivo é estabelecer uma rede mundial de certificação e creditação para que o domínio do português conceda créditos no acesso à universidade. Por ditame comunitário, a cooperação para o desenvolvimento será delegada, envolvendo vários parceiros europeus.

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Teresa Ribeiro, secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, tutela o Instituto Camões Ricardo Campos

O Instituto Camões vai apostar, de forma estruturada no próximo ano, num novo esquema de formação de professores à distância como forma de satisfazer os pedidos de vários países, revela, ao PÚBLICO, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Teresa Ribeiro, que tutela aquele organismo. Formalmente, tal solicitação foi requerida às autoridades de Lisboa por Timor-Leste e Uruguai, mas pedidos de teor idêntico chegaram através do pessoal diplomático português na Polónia, República Checa e África do Sul.

Varsóvia e Praga requereram tal formação para o sector jurídico, enquanto a solicitação de Pretória se destinava à área de negócios. Também os responsáveis do Banco Africano de Desenvolvimento manifestaram interesse ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) na possibilidade de serem ministrados cursos de português aos seus funcionários.

“O objectivo é, a partir do Camões, estabelecer uma rede mundial de certificação e creditação para que a aprendizagem da língua portuguesa conceda créditos no acesso à universidade”, precisa a secretária de Estado. Para tanto, o portal do Camões está a ser preparado através de candidaturas à Agência de Modernização Administrativa. “É pôr o Instituto Camões no século XXI”, sintetiza Teresa Ribeiro.

Este esforço soma-se à rede de professores no terreno, prevendo-se, o com a nova fórmula de ensino, o aumento exponencial dos estrangeiros que aprendem português. Actualmente são 200 mil os que têm aulas através das redes do Camões, estimando-se que correspondem apenas a 30% dos que frequentam cursos de português. Ou seja, serão mais de um milhão de cidadãos de outros países ou luso-descendentes a quem são ministradas aulas de língua portuguesa.

Na próxima semana será divulgado o mapeamento do ensino de português no estrangeiro, combinando as iniciativas do Camões, das universidades e institutos politécnicos. Actualmente, a língua portuguesa é falada por 261 milhões de pessoas no mundo, segundo as estatísticas internacionais, o que lhe confere a dimensão de língua global. “Só com o Brasil, Angola e Moçambique, países com um potencial de aumento económico e demográfico, esses números crescerão exponencialmente”, antevê a responsável.

Ainda não há previsões sobre o aumento de professores formados à distância no próximo ano, mas com esta estruturação do ensino ficarão para a história, como muito escassos, os 200 que em 2015 tiveram formação online. No entanto, mantem-se a forma clássica de ensino, através da próxima abertura de centros de língua portuguesa no Vietname e Chile.

Os responsáveis do MNE destacam a importância que as autoridades de Díli atribuem à língua portuguesa como vector estruturante daquele país. No seu pedido de reforço de formação de novos 4200 professores, o Governo timorense diagnosticou um défice do português em áreas de soberania tão decisivas como as Forças Armadas, Justiça e comunicação social. A língua portuguesa, tal como a religião católica, tiveram sérios obstáculos durante a ocupação da Indonésia, entre Dezembro de 1975 e Outubro de 1999. O que levou, até agora, à formação de nove mil professores. Actualmente, a influência geopolítica da Austrália tem determinado uma pressão do ensino do inglês.

Cooperação triangular

Portugal continua a apostar na cooperação triangular, fórmula preferida pela União Europeia (UE) no âmbito do plano de investimento externo de Bruxelas, seguindo os princípios da agenda 2030 ou os preceitos do financiamento do desenvolvimento acordados em Adis Abeba. Deste modo, está em criação um Fundo de Desenvolvimento Sustentável na Europa comunitária, de 3,3 mil milhões de euros, cuja alavancagem pode chegar aos 65 mil milhões. Uma verba destinada à preparação de projectos com uma novidade: a constituição de canais de desenvolvimento económico em parceria com o sector privado dos países beneficiados, para garantir a diversificação económica.

Aliás, esta triangulação, aproveitando os fundos europeus, já existe em alguns projectos e com parceiros comunitários. Com França está-se a proceder à definição de zonas de parceria em Angola, com a Espanha o objectivo comum é a Colômbia e com a Alemanha estão em estudo a forma e os destinatários. A cooperação para o desenvolvimento com as autoridades de Bogotá levou à realização, no passado dia 12, em Bruxelas, de um encontro de trabalho entre portugueses, espanhóis, italianos e franceses. Na agenda estiveram novos projectos de cooperação com a Colômbia nas áreas judiciária, policial e prisional, estimados em 20 milhões de euros e, nesta fase, a identificação das oportunidades para os quatro países europeus trabalharem em conjunto com um horizonte de execução de médio prazo. “É a própria União Europeia que propõe este tipo de parcerias para a cooperação não ser hegemonizada”, explica a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação.

Por outro lado, já foram assinados memorandos de entendimento com o Chile e o Uruguai, um instrumento idêntico está em preparação com a Argentina, e o Brasil também manifestou o seu interesse.   “A cooperação é por nós entendida como vector da internacionalização da economia, pelo que vamos de mãos dadas com o sector privado, com o aval da UE”, refere Teresa Ribeiro.

No início do mês, Portugal assinou com São Tomé e Príncipe o primeiro programa estratégico de cooperação de 57,5 milhões de euros para 2016/2020, nas áreas da Educação, Saúde, Alterações Climáticas, Justiça, Promoção Económica e Segurança Social. No MNE os destinatários da cooperação estão há muito identificados: Magrebe e Norte de África, para promover o desenvolvimento regional e obstar às actuais pressões migratórias, América Latina, países africanos de língua portuguesa e Timor-Leste.

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